"Eu Sei Que Vou Te Amar" é uma canção de Vinícius de Moraes e Tom Jobim composta em 1958. É considerada a 24ª melhor música brasileira pela revista Rolling Stone Brasil. "Eu Sei Que Vou Te Amar" é um samba-canção com inúmeras regravações, inclusive no exterior. É inesquecível a versão na qual Maria Creuza interpreta a canção enquanto Vinícius de Moraes, o Poetinha, declama o "Soneto de Fidelidade".
Inspirados na ideia da canção, em 1986, Arnaldo Jabor (direção) e Helio Paula Ferraz produziram "Eu Sei Que Vou Te Amar", grande clássico da dramaturgia brasileira, que rendeu inclusive o prêmio de melhor atriz para Fernanda Torres, no Festival de Cannes.
A música fez parte da trilha sonora de várias novelas, como: "Bambolê" (1987 - Carla Daniel), "Beleza Pura" (2008 - Nana Caymmi e Maácio Faraco), "América" (2005 - Caetano Veloso), "A Feia Mais Bela" (2006 - Jaime Camil), "Anjo Mau" (1997 - Anna Lengruber), dentre outras.
Em 1982, após vários anos de apresentações na Itália, Toquinho já era um nome de destaque naquele país. O empresário Franco Fontana criara a gravadora Maracana objetivando diretamente a música brasileira, e resolvera gravar um disco com Toquinho, com músicas novas. Para isso escolheu o músico italiano Maurizio Fabrizio, que havia vencido o Festival de San Remo e que, na visão de Franco Fontana, concentrava características semelhantes às do violonista brasileiro.
Do encontro dos dois resultou uma generosa parceria, material para quatro discos entre o período de 1983 e 1994. Essas canções receberam originalmente letras em italiano, a grande maioria, de Guido Morra, e poucas de Sergio Bardotti. Depois algumas foram vertidas para o castelhano por I. Baldacchi e outras por C. Toro. Parte delas recebeu versões de Toquinho, que as gravou também em português. Toquinho conta como teve início essa parceria:
"Quando o Franco decidiu investir nesse disco, surgiu a grande controvérsia: a parceria. Ele arriscou no Maurizio Fabrizio. Eu não sabia quem era o Maurizio. Não o conhecia, nunca o tinha visto. Aí, o Maurizio me telefonou do Aeroporto de Congonhas: 'Eu estou com uma blusa amarela, uma calça cinza e uma mala marrom te esperando'. E eu: 'Vou estar com um carro prata'. Cheguei, olhei, lembrei das dicas, ele me viu, nos acenamos, e pronto.
Fomos para casa e ele dormiu um pouco. Quando acordou, almoçamos - isso no dia em que ele chegou - e eu tinha uma pianolinha, uma coisinha ridícula - ele toca piano - então peguei meu violão e disse: 'Nós temos que fazer músicas. Vamos combinar uma coisa: o que você não gostar daquilo que eu faço, me fala. E o que eu não gostar do que você faz, eu falo. Tudo bem?'. Ele concordou e começou a mostrar uma música. Achei meio chata a primeira parte, mas quando ele entrou na segunda parte, eu gostei, lembrava a primeira parte de 'Uma Rosa Em Minha Mão', que fiz com Vinicius, em 1974, para a novela 'Fogo Sobre Terra', da Globo.
Então, toquei para ele, que, em seguida, começou com a segunda parte da música dele. Uma se encaixou na outra, naturalmente, na primeira tentativa, era a primeira música que ele me mostrava... Assim, gastamos nem três minutos para fazer a música que seria conhecida como 'Acquarello', em italiano, que é a nossa 'Aquarela'.
Achei bonita, me animei, e nos outros dias fizemos umas oito melodias. Maurizio voltou para a Itália para criar os arranjos e trabalhar com o letrista, o Guido Morra, que fez as letras de todas as nossas canções. Quando cheguei na Itália, em novembro de 1982, para fazer a temporada de shows e gravar o disco, nunca me esqueço, estava num restaurante e eles apareceram com todas as letras já datilografadas. 'Vamos mostrar todas as letras para você, e deixar por último, aquela pela qual todos estão encantados'.
Eu não confiava nessa música como música de sucesso, nem imaginava isso. Para mim, era só uma canção de meio de disco. Então, me mostraram todas as letras e, por fim, a última: 'Acquarello'. É uma letra mágica: desperta a criança que carregamos dentro de nós, reforça o romantismo da amizade, aviva as delícias de se ganhar o mundo com a rapidez moderna, e, por fim, nos alerta para o enigma do futuro que guarda em seu bojo a implacável ação do tempo, fazendo tudo perder a cor, perder o viço, perder a força.
Gravei o disco e fizemos o lançamento em Sanremo. Depois da primeira apresentação de 'Acquarello', começaram a pipocar comentários os mais maravilhosos, o disco saiu com 30 mil cópias, que se esgotaram no segundo dia. Essa música tem realmente um aspecto emocional muito forte, um apelo comercial, as pessoas ouvem e se envolvem. De repente, o Franco passou a me telefonar: 'Olha, a música estourou por aqui, está nos primeiros lugares das paradas'. Voltei lá para fazer promoção, aí, ninguém segurou mais.
Fui o primeiro artista brasileiro a ganhar um Disco de Ouro na Itália - 100.000 cópias, como aqui. Virei artista popular fora do Brasil! Então, resolveu-se gravar a música em português. Quando conheci a letra, ainda na Itália, me empolguei em fazer a tradução. Sabia que encontraria dificuldades, pois é uma letra grande, as rimas tinham de ser precisas. Mudei muita coisa na forma de dizer, para poder conservar em nossa língua, a mesma magia atingida pelo 'Morra', em italiano. E começou a sair um negócio bonito, nem eu mesmo sabia o que era. Mesmo assim, achava a letra muito grande. Mas não deu outra coisa. Saiu aqui e foi outro estouro igual. Na Espanha, a mesma coisa. Na Argentina, na França, em todo lugar. Aqui no Brasil virou tema de publicidade, tarefa de escola para a criançada, e até hoje é exigida e cantada nos shows, como na época de seu lançamento. 'Aquarela' foi um marco em minha carreira, como seria na de qualquer outro. Uma coisa definitiva na vida de um compositor.
'Aquarela' é uma música que tem algo melhor, quem sabe a força da ingenuidade infantil ligada a um encanto popular que emociona. O primeiro acorde já levanta as pessoas. Consolidou-me, tanto na Itália como aqui, na América do Sul e na Europa. A partir daí as pessoas me reconheceram também como instrumentista, tornei-me popular."
Em 13 de dezembro de 1968, o governo militar editou o Ato Institucional Número 5 (AI-5) dando amplos poderes ao executivo, suspendendo o habeas corpus para crimes políticos. Na imagem capa do jornal Folha de São Paulo em 14/12/1968.
Entre tantas músicas, que de uma forma ou de outra nos conta os longos 20 anos de ditadura, existe uma em especial: "Pra Não Dizer Que Não Falei Das Flores", também conhecida como "Caminhando". Esta música foi composta em 1968 por Geraldo Vandré, um homem paraibano, que depois de 1968 sumiu e ficou durante anos em silêncio, mas que deixou como herança para as novas gerações, uma composição que por muitos é considerada um hino contra a ditadura. Alguns ainda dizem que é a Marselhesa brasileira. Marselhesa foi um canto de guerra revolucionário que acompanhava a maior parte das manifestações francesas, e em 1975 tornou-se hino nacional da França.
A música "Pra Não Dizer Que Não Falei Das Flores", tem grande importância na história político-social do Brasil e suas contribuições para a transformação da sociedade brasileira perduram até os dias atuais. A letra de uma música traz consigo pensamentos de uma época, ideologias e características da cultura de um povo e, como um texto, é formada por elementos pragmáticos que trazem informatividade e a situacionalidade de sua composição. "Pra Não Dizer Que Não Falei Das Flores" participou do III Festival Internacional da Canção e ficou em segundo lugar. Depois disso, teve sua execução proibida durante anos, pela ditadura militar brasileira. A composição se tornou um hino de resistência do movimento civil e estudantil que fazia oposição à ditadura militar durante os governo militar, e foi censurada. O Refrão "Vem, vamos embora / Que esperar não é saber / Quem sabe faz a hora, / Não espera acontecer" foi interpretado como uma chamada à luta armada contra os ditadores.
Ainda em 1968, com o AI-5, Geraldo Vandré foi obrigado a exilar-se. Depois de passar dias escondido na fazenda da viúva de Guimarães Rosa, morto no ano anterior, o compositor partiu para o Chile e, de lá, para a França.
Geraldo Vandré voltou ao Brasil em 1973 e até hoje, vive em São Paulo e compõe. Muitos, porém, acreditam que Geraldo Vandré tenha enlouquecido por causa de supostas torturas que ele teria sofrido. Dizem que uma das agressões físicas que sofreu foi ter os testículos extirpados, após a realização de um show, por policiais da repressão. O músico, no entanto, nega que tenha sido torturado e diz que só não se apresenta mais porque sua imagem de "Che Guevara Cantor" abafa sua obra.
A canção "Pra Não Dizer Que Não Falei Das Flores" foi usada em 2006 pelo Governo Federal como trilha musical para publicidade de suas Políticas de Educação como o ProUni e o ENEM, sendo executada em um ritmo diferente. Dessa forma, a música que foi considerada uma ameaça ao governo ditatorial passou a ser usada para publicidade do governo no período democrático.
A melodia da canção tem o ritmo de um hino, e sua letra possui versos de rima fácil (quase todos terminados em ão), que facilitam memorizá-la, logo era cantada nas ruas. E o sucesso de uma canção que incitava o povo à resistência levou os militares a proibi-la, usando como pretexto a "ofensa" à instituição contida nos versos: "Há soldados armados, amados ou não / Quase todos perdidos de armas na mão / Nos quartéis lhes ensinam uma antiga lição / de morrer pela pátria e viver sem razão".
A primeira cantora a interpretar "Pra Não Dizer Que Não Falei Das Flores" após o período em que a canção esteve censurada foi Simone, em 1979, conquistando enorme sucesso de crítica e público.
A belíssima música "Canteiros" de "autoria" do cantor cearense Raimundo Fagner é uma das música mais polêmicas da história musical brasileira. Toda essa polêmica não tem a ver com a canção em si, mas com a autoria da mesma.
A canção foi lançada em 1973, no álbum de estreia do cantor, e, na ocasião, não fez lá muito sucesso. Posteriormente, quando o cantor já havia estourado lá na região sudeste, a música se tornou um grande sucesso. Na ocasião, foi aberto um processo criminal contra o cantor, pelas filhas da grande poetisa brasileira Cecília Meireles, por supostamente ter plagiado o poema "Marcha", de autoria da mesma.
Em 1979, durante uma audiência, ao ser interrogado no dia pelo Juiz Jaime Boente, na 16ª Vara Criminal, Fagner afirmou que ''sem tirar a beleza dos versos, procurou fazer uma adaptação à música'', reconhecendo o uso indevido do poema "Marcha", de Cecília Meireles, na composição "Canteiros". O próprio cantor, antes mesmo de ser acusado de plágio já tinha dividido a parceria da letra com Cecília Meireles e inclusive divulgando-a em release de show, em 1977.
Contudo, apesar deste fato, o processo continuou a se desenrolar, e em 1983, um jornal de circulação nacional destacou em letras garrafais:
''Caso Fagner: filhas de Cecília Meireles ganham na Justiça''
O título da matéria se referia ao fato de as herdeiras terem conseguido condenar as gravadoras Polygram, Polystar, Polifar, as Edições Saturno e o cantor Raimundo Fagner a pagar uma multa de Cr$ 101.000,00 por violação de direitos autorais.
A confusão envolvendo o cantor e as herdeiras de Cecília Meireles somente chegou ao fim em 1999, quando a gravadora Sony Music fez um acordo com elas para a regravação da música, o que aconteceu em janeiro de 2000, em Fortaleza, no primeiro registro ao vivo das músicas do compositor cearense.
Para o Juiz Jaime Boente, Fagner violou a lei de número 5.988/73 que regula os direitos autorais e com a agravante de plágio, nos artigos 184 e 185 do Código Penal. Eis, a título de curiosidade e comparação com a letra cantada por Fagner, o poema ''Marcha'', original de Cecília Meireles:
''Quando penso no teu rosto, fecho os olhos de saudade
Tenho visto muita coisa, menos a felicidade
Soltam-se meus dedos tristes
dos sonhos claros que invento
Nem aquilo que imagino
já me dá contentamento"
Fagner mudou algumas coisas e o trecho da música ficou assim:
Uma das mais belas canções da história do choro é a valsa "Rosa" do mestre Alfredo da Rocha Viana Filho, o Pixinguinha. Um primor tanto na versão original, sem letra, quanto na versão mais conhecida com letra de Otávio de Souza. Além da beleza ímpar, a música possui algumas curiosidades.
Segundo o próprio autor, a valsa foi composta em 1917 e o título original era "Evocação", só recebendo letra muito mais tarde. Como manda a regra e a tradição do chorinho, a música foi composta em três partes. Mais tarde, recebeu letra apenas para primeira e segunda partes e foi gravada e regravada muitas vezes dessa forma. Há alguns anos atrás, a versão original, em três partes e sem letra, foi regravada para o box "Choro Carioca, Música do Brasil" lançado pela gravadora Acari.
"O autor dessa letra é Otávio de Souza, um mecânico do Engenho de Dentro, bairro carioca, muito inteligente e que morreu novo."
(Pixinguinha)
A letra de "Rosa" é um capítulo à parte. Rebuscada, parnasiana e lindíssima foi composta pelo improvável Otávio de Souza. Otávio de Souza era um mecânico de profissão que morreu jovem e nunca compôs nada parecido com "Rosa". Um compositor de uma única música, uma obra prima.
Conta a lenda que Otávio de Souza se aproximou de Pixinguinha enquanto o mestre bebia em um bar do subúrbio carioca para falar que havia uma letra que não saía de sua cabeça toda vez que ouvia a valsa. Pixinguinha ouviu e ficou maravilhado.
A gravação feita por Orlando Silva foi a responsável pela popularização de "Rosa", com erro de concordância e tudo no trecho "sândalos dolente". Francisco Alves e Carlos Galhardo deixaram de gravar "Rosa" por terem se recusado a gravar "Carinhoso" destinado ao Lado A do mesmo disco. Sobrou, então, a valsa para Orlando Silva, que lhe deu interpretação magistral.
"Rosa" é uma linda valsa de breque, mas de difícil interpretação vocal, especialmente para o uso de legatos, já que as pausas naturais são preenchidas por segmentos que restringem os espaços para o cantor tomar fôlego. Quanto à letra, é também um exemplo do estilo poético rebuscado em moda na época. O desafio de regravar "Rosa" foi tentado por alguns intérpretes, sendo talvez o melhor resultado obtido por Marisa Monte, em 1990, com pequenas alterações melódicas.
Outra curiosidade é que "Rosa" era a canção preferida da mãe de Orlando Silva, Dona Balbina. Após sua morte, em 1968, Orlando Silva jamais voltou a cantar a canção pois sempre chorava.
Letra de Vinícius de Moraes Música de Gerson Conrad
Ano da Letra: 1954 Ano da Música: 1973
"Rosa de Hiroshima" é um poema de Vinícius de Moraes, musicado por Gerson Conrad na canção "Rosa de Hiroshima" da banda Secos & Molhados. Fala sobre a explosão atômica de Hiroshima. O poema alude aos bombardeamentos de Hiroshima e Nagasaki ocorridos na Segunda Guerra Mundial.
"Rosa de Hiroshima" foi lançada no ano de 1973, no disco de estreia do grupo. Foi a única canção creditada a Gerson Conrad no álbum. A canção é um grito pacifista e anti-nuclear, lançada em plena ditadura no Brasil. Foi apresentada ao vivo no espetáculo histórico do grupo no Maracanãzinho em meados de 1974.
A música foi a décima terceira mais executada nas rádios brasileiras no ano de 1973. Em 2009, a revista Rolling Stone brasileira listou "Rosa de Hiroshima" como a número 69 entre "As 100 Maiores Músicas Brasileiras".
Outras Versões
A canção foi lançada em uma versão ao vivo em "Secos & Molhados - Ao Vivo no Maracanãzinho", em 1974. Ney Matogrosso regravou, e apresentou ao vivo esta canção em carreira solo. Arnaldo Antunes regravou esta canção para o disco "Assim Assado - Tributo ao Secos & Molhados" que comemorava os 30 anos do Secos & Molhados, lançado em 2003.
Análise do Poema
Na primeira parte do poema, os versos são formados por cinco sílabas, tendo começos e fins definidos por consoantes que os separam. Além disso, a primeira sílaba é sempre tônica para marcar o começo de um novo verso. Perceba:
Pen sem nas cri an/ ças
Mu das te le pá/ ticas
Isso dá um ritmo mais cadenciado à leitura dos versos, como que criando fotos e dando tempo para que o leitor realmente "se lembre" das imagens que o poeta quer passar e reflita. Cada par de versos, uma foto.
Então chegamos aos versos que ficam ao meio do poema:
Mas, oh, não se esqueçam / Da rosa da rosa
Até aí, as imagens eram sobre as consequências da bomba atômica e sua radioatividade. Agora, ele pede que nos lembremos da bomba, em si, simbolizada pela rosa em alusão à flor de dejetos e fumaça que a bomba criou. E, a partir daí, o poema muda.
Os versos passam a ter seis sílabas e todos fazem parte de uma única imagem - a da bomba portanto, devem ser interligados. Como fazer isso? Produzindo uma sinérese entre vocábulos e versos (ligando duas vogais, a do fim da última palavra de um verso com a do início do próximo verso, num fonema só). Por isso desde o início da nova foto, "Da rosa de Hiroshima", todos os versos são terminados em vogal e iniciados com outra. Veja:
Da rosa de Hiroshima
A rosa hereditária
A rosa radioativa
Estúpida e inválida
O poema termina com uma última parte, com dois versos, novamente em redondilha menor (cinco sílabas) e iniciados em consoantes:
Sem cor sem perfume / Sem rosa, sem nada
Mostram novamente, as consequências da bomba, deixando o local desabitado, sem vida.
Publicações
Antologia Poética
Poesia Completa e Prosa: "Nossa Senhora de Los Angeles"
"Aquarela do Brasil" é uma das mais populares canções brasileiras de todos os tempos, escrita pelo compositor mineiro Ary Barroso em 1939.
A canção "Aquarela do Brasil" foi composta numa noite de 1939 na qual Ary Barroso foi impedido de sair de casa devido a uma forte tempestade. Naquela mesma noite, também compôs "Três Lágrimas" antes que a chuva acabasse.
Antes de ser gravada, "Aquarela do Brasil", inicialmente chamada de "Aquarela Brasileira", foi apresentada pelo barítono Cândido Botelho no musical "Joujoux e Balangandans", espetáculo beneficente patrocinado por Darcy Vargas, a então primeira-dama.
A canção foi originalmente gravada por Francisco Alves, com arranjos e acompanhamento de Radamés Gnattali e Sua Orquestra, e lançada pela Odeon Records naquele mesmo ano. Foi também gravada por Aracy Côrtes e, apesar da popularidade da cantora, a canção não fez sucesso, talvez por não ter se adequado bem à voz dela.
Popularidade
O sucesso de "Aquarela do Brasil" demorou a se perpetuar. Em 1940, não conseguiu ficar entre as três primeiras colocadas no concurso de sambas carnavalescos, cujo júri era presidido por Heitor Villa-Lobos, com quem Ary Barroso cortou relações, que só foram retomadas quinze anos depois, quando ambos receberam a Comenda Nacional do Mérito. O sucesso só veio após a inclusão no filme de animação "Saludos Amigos", lançado em 1942 pelos Estúdios Disney. Foi a partir de então que a canção ganhou reconhecimento não só nacional como internacional, tendo se tornado a primeira canção brasileira com mais de um milhão de execuções nas rádios estadunidenses.
Devido à enorme popularidade conquistada nos Estados Unidos, a canção recebeu uma letra em inglês do compositor Bob Russell, escrita para Frank Sinatra em 1957. Desde então, já foi interpretada por cantores de praticamente todas as partes do mundo.
Durante a ditadura militar, Elis Regina interpretou aquela que talvez seja a versão mais sombria da canção, acompanhada por um coral que reproduzia os cantos dos povos indígenas do Brasil.
Críticas
A canção, por exaltar as qualidades e a grandiosidade do país, marcou o início do movimento que ficaria conhecido como samba-exaltação. Este movimento, por ser de natureza extremamente ufanista, era visto por vários como sendo favorável à ditadura de Getúlio Vargas, o que gerou críticas à Ary Barroso e à sua obra. No entanto, a família do compositor nega que ele algum dia tenha sido favorável à política de Getúlio Vargas, destacando o fato de que ele também escreveu "Salada Mista", gravada em outubro de 1938 por Carmen Miranda, uma canção contrária ao nazi-fascismo do qual Getúlio Vargas era simpatizante. Vale notar também que antes de seu lançamento, o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) vetou o verso "terra do samba e do pandeiro", por entender que era "depreciativo" para o Brasil. Ary Barroso teve de ir ao Departamento de Imprensa e Propaganda para convencer os censores da preservação do verso.
Outra crítica feita à obra de Ary Barroso, na época, foi que usava termos pouco usuais no cotidiano, tais como "inzoneiro", "merencória" e "trigueiro", e que abusava da redundância nos versos "meu Brasil brasileiro" e "esse coqueiro que dá coco". O autor se defendeu, dizendo que estas expressões são efeitos poéticos indissolúveis da composição. Na gravação original, Francisco Alves canta "mulato risoneiro" no lugar de "inzoneiro" por não ter compreendido a caligrafia ilegível de Ary Barroso.
2002 - The Simpsons (Episódio: "Blame It On Lisa")
2007 - Vidas Opostas (Tema de Abertura)
2007 - Eterna Magia (Tema do Rio de Janeiro)
2008 - Eli Stone (Tema de Abertura)
Aquarela do Brasil
Brasil Meu Brasil brasileiro Meu mulato inzoneiro Vou cantar-te nos meus versos Ô Brasil, samba que dá Bamboleio, que faz gingar Ô Brasil do meu amor Terra de Nosso Senhor Brasil, Brasil Prá mim, prá mim Ô abre a cortina do passado Tira a mãe preta do cerrado Bota o rei congo no congado Brasil, Brasil Deixa cantar de novo o trovador A merencória luz da lua Toda canção do meu amor Quero ver a Sá Dona caminhando Pelos salões arrastando O seu vestido rendado Brasil, Brasil Prá mim, prá mim Brasil Terra boa e gostosa Da morena sestrosa De olhar indiferente Ô Brasil, verde que dá Para o mundo admirar Ô Brasil, do meu amor Terra de Nosso Senhor Brasil,Brasil Prá mim, prá mim Ô, esse coqueiro que dá coco Oi onde eu amarro a minha rede Nas noites claras de luar Brasil, Brasil Ô oi estas fontes murmurantes Oi onde eu mato a minha sede E onde a lua vem brincar Ô, esse Brasil Lindo e trigueiro É o meu Brasil brasileiro Terra de samba e pandeiro Brasil, Brasil Prá mim, prá mim
"Construção" é uma canção do cantor e compositor brasileiro Chico Buarque, lançada em 1971 para seu álbum homônimo. Junto com "Pedro Pedreiro", é considerada uma das canções mais emblemáticas da vertente crítica do compositor, "podendo-se enquadrar como um testemunho doloroso das relações aviltantes entre o capital e o trabalho".
A letra foi composta em versos dodecassílabos, que sempre terminam numa palavra proparoxítona. Os 17 versos da primeira parte (quatro quartetos, acrescidos de um verso-desfecho) são praticamente os mesmos dezessete que compõem a segunda parte, mudando apenas a última palavra. Os arranjos são do maestro Rogério Duprat, em uma melodia repetitiva, desenvolvida inicialmente sobre dois acordes. A música, entretanto, tem harmonia bem mais complexa.
A canção foi feita em um dos períodos mais severos da ditadura militar no Brasil, em meio à censura e à perseguições políticas. Chico Buarque havia retornado da Itália em março de 1970, país onde vivia desde o início de 1969, ao tomar distância voluntária da repressão política brasileira.
Letra e Música
Em um formato tipicamente épico, "Construção" narra a história de um trabalhador da construção civil morto no exercício de sua profissão, em seu último dia de vida, desde a saída de casa para o trabalho ("Beijou sua mulher como se fosse a última") até o momento da queda mortal ("E se acabou no chão feito um pacote flácido").
O narrador observa, organiza e comunica os acontecimentos, ocorridos numa história circular, cantada em melodia reiterativa e que modifica o ângulo de observação a cada repetição da letra com a troca de comparações ("Ergueu no patamar quatro paredes sólidas/mágicas/flácidas"), mas que no final encaminha para o mesmo fim, uma morte.
A letra contém uma forte crítica à alienação do trabalhador na sociedade capitalista moderna e urbana, reduzido a condição mecânica - intensificado especialmente por seus atos no terceiro bloco da canção ("máquina", "lógico"). Quando esse trabalhador ("um pacote flácido/tímido/bêbado") morre, a constatação é de que sua morte apenas atrapalha o "tráfego", o "público" ou o "sábado".
Ainda assim, Chico Buarque declarou, em entrevista concedida à revista Status, em 1973, que "Construção" não era para ele uma música de denúncia ou protesto.
"(...) Em 'Construção', a emoção estava no jogo de palavras. Agora, se você coloca um ser humano dentro de um jogo de palavras, como se fosse... um tijolo - acaba mexendo com a emoção das pessoas."
(Chico Buarque)
O autor emprega ousados processos de construção poética como, por exemplo, a alternância das proparoxítonas finais, "como se fossem peças de um jogo num tabuleiro", segundo o próprio Chico Buarque. A letra é dividida em três blocos. Nos dois primeiros, compostos por 17 versos, e mais seis no último bloco. Nos dois primeiros blocos é possível perceber o nítido jogo de palavras proparoxítonas criado por Chico Buarque.
No rascunho de "Construção", os versos estavam soltos, mas já dentro de uma métrica e ritmo final. Alguns desses versos foram abandonados: "Pôs pedra sobre pedra até perder o fôlego" / "E o máximo suor por um salário mínimo". Em um rascunho posterior, a melodia sugere o agrupamento dos versos em quadro. E só depois de concluída a primeira parte é que apareceram as alternativas: "Tijolo com tijolo num desenho mágico/lógico", "E flutuou no ar como se fosse um pássaro/sábado", etc.
À complexidade da letra de "Construção", corresponde uma linha de apenas dois acordes, composta pelo maestro Rogério Duprat, que são repetidos à medida que se sucedem as imagens "como se ele tivesse realmente colocando laje sobre laje num edifício". O grupo MPB-4 participa do coro musical. Após o último verso do terceiro bloco, surge uma reprise com três estrofes de "Deus Lhe Pague", canção que abre o disco "Construção".
Crítica
O músico brasileiro Tom Jobim adorava a canção. Segundo seu filho Paulo Jobim, o pai chegou a recortar a letra da canção, publicada em um jornal da época, e a colou em um caderno. Helena Jobim confirma o entusiasmo do irmão: "Comentava a perfeição da letra, em que Chico usa palavras proparoxítonas, com rara maestria".
Conhecido por sua posições de direita, o jornalista David Nasser pôs-se um dia a louvar a canção - para, num trecho do artigo, a falar da insistência nas proparoxítonas, acrescentar mais uma: "Médici, o nosso presidente".
Para Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello, "Construção" tem "uma letra extraordinária, de qualidade rara numa canção popular".
Em 2001, o jornal Folha de S.Paulo, em uma enquete realizada com 214 votantes, entre jornalistas, músicos e artistas do Brasil, elegeu "Construção" como a segunda melhor canção brasileira de todos os tempos - atrás de "Águas de Março", de Tom Jobim. Já em uma eleição, em 2009, promovida pela versão brasileira da revista Rolling Stone, "Construção" foi eleita a melhor canção brasileira de todos os tempos.
Sampa é uma música do LP "Muito - Dentro da Noite Azulada" do ano de 1978, de Caetano Veloso. Música composta por Caetano Veloso para homenagear a cidade de São Paulo, apesar das críticas inseridas na letra.
O cruzamento da Avenida Ipiranga com a Avenida São João deve seu grande reconhecimento à música "Sampa". uma homenagem a cidade paulistana, conhecida por sua garoa característica e pela recepção de um grande número de migrantes, em especial os baianos, como Caetano Veloso.
Apesar de estar presente em um dos álbuns de Caetano Veloso que menos fizeram sucesso (vendeu cerca de 30 mil cópias, apenas) a canção tornou-se uma das mais famosas e pedidas nos shows do cantor e compositor.
O curioso é que em uma cidade com grandes representantes como Os Mutantes e Demônios da Garoa, ninguém conseguiu decifrar São Paulo melhor do que o baiano Caetano Veloso. A obra prima é composta falando das principais características da capital paulista. A poluição, a recepção para os migrantes, as múltiplas culturas e o sonho de quem vem de fora estão presentes na composição.
Quem é paulistano tem orgulho da canção, quem não é, fica com vontade de conhecer Sampa, modo como os paulistanos apelidaram a cidade e que deu título para a canção. Exatamente a realidade.
Quando cruza a Ipiranga e a Avenida São João, meu coração paulistano não sofre grandes abalos, a não ser por uma leve vontade de gastar quinze minutos com um chopp no terraço do Bar Brahma.
Consta, porém, que não é o que se passa com o coração de quem chega por aqui, sem nada entender. E assim se deu com Caetano Veloso, em 1965, quando, ao lado da irmã Maria Bethânia, viu seu coração vagabundo cruzar palpitante as avenidas que se cruzam e que sua canção ajudou a imortalizar.
Na verdade, a Avenida São João já havia sido imortalizada por cenas de sangue num bar cantadas em "Ronda", de Paulo Vanzolini. Aliás, a frase melódica do último verso de "Ronda": "cena de sangue num bar na Avenida São João", é reproduzida na introdução e nos versos finais de cada estrofe de "Sampa".
O compositor paulista não gostou da citação e, a cada rara entrevista que concede, não perde a oportunidade de espinafrar o baiano, acusando-o de plágio. Costuma dizer que "Sampa é puro marketing".
Ao meu ver, é incompreensível a postura do sempre enfático e coerente Paulo Vanzolini, pois ao citar sua música em "Sampa", fica claro que Caetano Veloso considerou "Ronda", que já havia sido gravada por Maria Bethânia, uma canção capaz de traduzir a cidade que ele pretendia homenagear. Trata-se, portanto, também, de uma homenagem a Paulo Vanzolini. Ainda que por tabela.
Mas "Ronda" é, apenas, a primeira homenageada, já que a canção é repleta de citações e homenagens a São Paulo e seus personagens, a começar por Rita Lee, eleita a mais completa tradução da cidade, e sua banda, Os Mutantes, composta por ela e pelos irmãos Arnaldo Baptista e Sérgio Dias, responsáveis pela face mais rock'n roll do tropicalismo e da Música Popular Brasileira.
O "avesso do avesso do avesso do avesso" é referência direta ao poeta concretista Décio Pignatari e sua luta pelo avesso. O irmãos Haroldo de Campos e Augusto de Campos surgem como "poetas de campos e espaços". É a dura poesia concreta nas esquinas de Caetano Veloso.
Em 1969, na montagem do Teatro Oficina de "Selva das Cidades", de Bertold Brecht, a arquiteta e cenógrafa Lina Bo Bardi colocou meia dúzia de troncos de árvores abatidas para a construção do Minhocão num ringue de boxe. No fim da cena, ironicamente chamada de "Área Verde", os troncos desmoronavam. Caetano Veloso ficou impressionado com a obra do diretor José Celso Martinez Corrêa e, quando compôs "Sampa", rendeu esta homenagem ao teatro paulistano, mencionando as "Oficinas de Florestas" da cidade. Hoje, José Celso defende o fim do Minhocão e a instalação de uma imensa área verde no entorno do teatro, localizado no bairro do Bixiga. Em retribuição à homenagem de Caetano Veloso, tal área será batizada de "Oficina de Florestas".
Ainda que em tempos de aquecimento global São Paulo alterne momentos de estiagem e outros de enchentes, houve um tempo em que São Paulo era conhecida como "terra da garoa". Não seria de se estranhar que os "deuses da chuva" citados em "Sampa" fizessem menção a esta alcunha. O mais provável, porém, é que o termo faça referência ao romance "Deus da Chuva e da Morte", do poeta e compositor paulistano Jorge Mautner, amigo e parceiro de Caetano Veloso, muito próximo ao tropicalismo. Referência para a turma da Tropicália, o livro "PanAmérica", de José Agrippino de Paula, também abocanhou sua citação.
Aliás, impressiona no Tropicalismo, especialmente na obra de Caetano Veloso, a tendência à auto-referência. Será que Narciso acha feio o que não é espelho?
Mas a turma da Bossa Nova também costuma merecer a atenção do bom baiano.
"Johnny, volta pro Rio. São Paulo é o túmulo do samba" - foi o que disse Vinícius de Moraes para Johnny Alf, quando este foi importunado por um cliente da boate La Cave, completamente embriagado. O autor de "Sampa" assinou embaixo da provocação do poeta. O curioso é que este já havia feito, muito antes dessa polêmica, em 1954, por ocasião do IV centenário da cidade, em parceria com Antonio Maria, o belo "Dobrado de Amor a São Paulo", cujo verso final - notem a coincidência - faz o sol encontrar o poeta na Avenida São João. Sempre a São João.
Por fim, quando "Novos Baianos passeiam na tua garoa", faz-se referência ao conjunto musical composto por Moraes Moreira, Pepeu Gomes, Baby Consuelo (hoje, do Brasil), Paulinho Boca de Cantor e Luiz Galvão, sempre apoiados pelos meninos da Cor do Som.
Assim, milhões de novos pernambucanos, paraibanos, cearenses alagoanos, sergipanos e, por que não, baianos, ainda podem curtir São Paulo numa boa. Vêm com outro sonho feliz de cidade. Não há mais garoa, nem lhes sobra muito tempo para o passeio. A força da grana os oprime nas filas, vilas, favelas. Correm entre carros, com suas motocicletas, lutando para não engordarem as mórbidas estatísticas. Aprenderam depressa que o outro nome de "Sampa" é realidade, mas seguem construindo a cidade para que ela um dia se transforme, quem sabe, em suas Áfricas utópicas, seus mais possíveis novos quilombos de Zumbi.
Sampa
Alguma coisa acontece no meu coração
Que só quando cruza a Ipiranga e a avenida São João
É que quando eu cheguei por aqui eu nada entendi
Da dura poesia concreta de tuas esquinas
Da deselegância discreta de tuas meninas
Ainda não havia para mim Rita Lee
A tua mais completa tradução
Alguma coisa acontece no meu coração
Que só quando cruza a Ipiranga e a avenida São João
Quando eu te encarei frente a frente não vi o meu rosto
Chamei de mau gosto o que vi, de mau gosto, mau gosto
É que Narciso acha feio o que não é espelho
E à mente apavora o que ainda não é mesmo velho
Nada do que não era antes quando não somos Mutantes
E foste um difícil começo
Afasta o que não conheço
E quem vem de outro sonho feliz de cidade
Aprende depressa a chamar-te de realidade
Porque és o avesso do avesso do avesso do avesso
Do povo oprimido nas filas, nas vilas, favelas
Da força da grana que ergue e destrói coisas belas