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sábado, 25 de abril de 2015

Tristeza do Jeca

Tristeza do Jeca
Angelino de Oliveira
1918

Muito antes de empresários inescrupulosos associarem o termo "Sertanejo" ao "Universitário", para denominar um dos mais vergonhosos embustes já surgidos na história da música brasileira, duplas como Pedro Bento & Zé da Estrada, Tião Carreiro & Pardinho, Milionário & José Rico, Tibagi & Miltinho lançavam mão da viola para cantar as agruras e alegrias do campônio brasileiro.

A música que faziam denotava a legítima riqueza cultural do interior do País, muitas vezes injustamente ignorada pela população urbana. Assim, composições como "Chico Mineiro", "Chalana", "Cabocla Tereza", "Saudade da Minha Terra", "Mula Preta", "Moda da Pinga", "Rio de Lágrimas", "Preto de Alma Branca", "Canarinho do Peito Amarelo" "O Menino da Porteira", tornaram-se clássicos absolutos da música sertaneja nacional.

Mas o clássico dos clássicos da música caipira pertence a Angelino Oliveira, que compôs "Tristeza do Jeca", sob a inspiração do famoso personagem Jeca Tatu, criado por Monteiro Lobato no seu romance "Urupês".

"Tristeza do Jeca" é, assim, um dos mais fidedignos retratos do sertanejo brasileiro, ainda mais quando escutada na interpretação inconfundível daquela que foi a maior dupla sertaneja de todos os tempos: Tonico & Tinoco.

"Tristeza do Jeca", o verdadeiro Hino do Caipira, foi composta em 1918, editada 1922 e gravada pela primeira vez, só que na forma instrumental, em 1925. A primeira gravação cantada foi em 1926 na voz de Patrício Teixeira. Mas a primeira gravação que realmente tornou célebre "Tristezas do Jeca" ficou a cargo do cantor Paraguassu, Roque Ricciardi, em 1937 pela Gravadora Colúmbia.

"Tristeza do Jeca" também foi gravada por grandes duplas como Tonico & Tinoco, Inezita Barroso, Pena Branca & Xavantinho, Sérgio Reis, Passoca, Zico & Zeca, Irmãs Galvão e entre outros tantos. Esta composição atravessou fronteiras e serviu muitas vezes como fundo musical ao se falar sobre o Brasil no exterior.


Mazzaropi também empregou "Tristeza do Jeca" no filme homônimo em 1961, ocasião na qual chegou a ter uma pequena desavença com Angelino de Oliveira quanto aos direitos autorais, mas que foi rapidamente resolvida num encontro entre Mazzaropi e Angelino.

Também foi um espetáculo inesquecível a estréia da toada "Tristeza do Jeca", a qual se deu no Clube 24 de Maio em Botucatu, SP, em 1918. Marília Banducci e Aurélia Gouveia cantaram a belíssima melodia acompanhadas pelo próprio Angelino de Oliveira no violão. Após um curto silêncio que sucedeu o último acorde, iniciou-se um aplauso que, de início tímido, prolongou-se, seguido então de pedidos de bis e, segundo depoimentos, a música foi apresentada cinco vezes naquela noite. E, Ariowaldo Pires, o Capitão Furtado, que na época tinha 11 anos de idade, presenciou esse momento maravilhoso, pois seu pai era zelador do Clube 24 de Maio.

Curiosamente, "Tristeza do Jeca" não era a música preferida de Angelino de Oliveira. Ele mesmo se espantava com o sucesso de sua composição. Inclusive, às vezes, se esquecia de parte da letra quando as pessoas insistiam para que ele a tocasse, principalmente no Colosso, que era o bar preferido onde Angelino de Oliveira gostava de fazer seus encontros musicais com os diversos amigos, tendo sempre presente o José Maria Peres.

"Tristeza do Jeca" chegou a ser utilizada como prefixo pela BBC de Londres quando a mesma iniciava suas transmissões para o Brasil.

O sucesso de "Tristeza do Jeca" em interpretações consagradas como as de Tonico & Tinoco Inezita Barroso nos faz classificar Angelino de Oliveira como um compositor de música caipira, o que não é verdade, pois Angelino também compôs muitas serestas e canções.

Quanto à música caipira, na época, o progresso da mesma já intrigava Angelino de Oliveira que implicava com os rumos que ela vinha tomando, principalmente quando se tratava dos dramas sertanejos que já faziam sucesso. Dizia Angelino de Oliveira:

"Gozada a moda desses caipiras, só fala em desgraça. O pequenininho tá chorando, a mãe vem e derrama um caldeirão de água quente na criança, aí o marido chega em casa, mata tudo e depois se suicida... é desgraça multiplicada por dez! Ah, larga a mão, parece que a música pra ser boa tem que ter desgraça dobrada!?"

O Filme

"Tristeza do Jeca" é um filme brasileiro de 1961 produzido e dirigido por Amácio Mazzaropi, o 13º de sua carreira e seu primeiro a cores. As filmagens foram nos estúdios da Companhia Cinematográfica Vera Cruz. Números musicais com o próprio Mazzaropi e Agnaldo Rayol.

Sinopse: Jeca, a esposa Filó, e os filhos Maria e Toninho, são trabalhadores da fazenda do Coronel Felinto, que disputa a eleição para prefeito. Seu opositor, o idoso Coronel Policarpo, é apoiado pelo Coronel Bonifácio. Ambos os candidatos querem o apoio de Jeca que é tido como um dos líderes dos trabalhadores. Jeca não quer se envolver na disputa, mas quando Sérgio, filho de Bonifácio, pede em casamento sua filha Maria, ele acaba deixando se influenciar e todos pensam que ele apoia Policarpo. O Coronel Felinto não aceita e ameaça a todos de expulsão da fazenda e rapta o filho Toninho, tentando forçar Jeca e seus amigos a votarem nele.



Tristeza do Jeca

Nestes versos tão singelo
Minha bela, meu amor
Pra você quero contar
O meu sofrer e a minha dor
Eu sou que nem sabiá
Quando canta é só tristeza
Desde um galho onde ele está

Nesta viola eu canto e gemo de verdade
Cada toada representa uma saudade

Eu nasci naquela serra
Num ranchinho beira-chão
Todo cheio de buraco
Onde a lua faz clarão
Quando chega a madrugada
Lá na mata a passarada
Principia um barulhão

Nesta viola eu canto e gemo de verdade
Cada toada representa uma saudade

Vou parar com a minha viola
Já não posso mais cantar
Pois um jeca quando canta
Têm vontade de chorar
O choro que vai caindo
Devagar vai-se sumindo
Como as água vão pro mar