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quarta-feira, 22 de abril de 2015

Nunca

Nunca
Lupicínio Rodrigues
1952

"Nunca" é um dos clássicos de Lupicínio Rodrigues, juntamente com "Vingança", inspirados em Mercedes, também conhecida por Dona Carioca.

"Toda vez que uma mulher me trai, eu ganho dinheiro", costumava dizer Lupicínio Rodrigues, afirmando que só escrevia sobre experiências vividas por ele ou por seus amigos. "As mulheres boazinhas nunca me deram dinheiro, só as que me traíram!".

"O Som do Pasquim" (Ed. Desiderata, 2009) é um livro organizado por Tárik de Souza, reunindo algumas antológicas entrevistas que o pessoal do Pasquim, Ziraldo, Jaguar e Henfil, fez com cantores e compositores nos anos 70. Segundo Jaguar, "quando o jornaleco e a MPB estavam no auge, nem a Censura conseguia segurar!".

Uma das entrevistas antológicas foi com Lupicínio Rodrigues, um dos cinco maiores compositores gaúchos de todos os tempos, que contou a história de uma série de suas canções. Lupicínio Rodrigues, pra quem não sabe, foi quem criou a expressão "dor de cotovelo", sendo ainda responsável por classificá-las em dor de cotovelo federal (que só poderia ser curada com embriaguez total),  estadual (suportável, que se ajeitava com o passar do tempo) e  municipal (incapaz até mesmo de inspirar um samba).

Duas das  músicas inspiradas numa "Dor-de-cotovelo Federal"  são "Nunca" e "Vingança" , ambas inspiradas numa mesma mulher. Lupicínio Rodrigues contou ao pasquim a história:

Lupicínio: A mulher que me inspirou "Vingança" viveu comigo seis anos. E depois terminou namorando um garoto que era meu empregado, que tinha 16, 17 anos.
Pasquim: Foi passado pra trás por um garoto de 17 anos?
Lupicínio: Não foi bem assim. É que eu tinha viajado, ela mandou chamar o garoto. Disse que queria falar com ele. Ela mandou um bilhete. O garoto com medo de mim, quando eu cheguei, me entregou o bilhete. Disse: "Olha, a Dona Carioca me mandou esse bilhete. Eu não sabia o que ela queria comigo. Não fui!". Entregou a mulher. Aí eu não disse nada, fiquei quietinho, inventei outra viagem, peguei a mala e fui embora.
Pasquim: Endoidou?
Lupicínio: Era época de carnaval, ela endoidou. Botou um "Dominó". Dominó é aquela fantasia preta que cobre tudo. No carnaval, feito louca, foi me procurar. Uma certa madrugada, ela, num fogo danado - parece que deu fome, entrou num bar onde a gente costumava comer. Foi obrigada a tirar o "Dominó" pra comer, e o pessoal a reconheceu. Perguntaram: "Ué, Carioca, que você está fazendo aqui a essa hora? Cadê o Lupi?".
Pasquim: Carioca por quê? Ela é carioca?
Lupicínio: É sim. Ela é viva, mora aqui. Aí ela começou a chorar. Eu estava num restaurante do outro lado. Uns amigos chegaram e me disseram: "Ô, encontramos a Carioca vestida de 'Dominó', num fogo tremendo. Começou a chorar e perguntar por ti. O que houve, vocês estão brigados?". Aí foi que eu fiz "Vingança". Na mesma hora, comecei, saiu (cantando): "Gostei tanto, tanto, quando me contaram..."
Pasquim: Foi uma ruptura pra valer?
Lupicínio: Eu sou muito amigo dos pais de santo, os batuqueiros lá de Porto Alegre. em cada lugar que chegava ela botava fotografia minha, cabritas, aquele negócio todo para fazer as pazes. Aí eu fiz (canta) "Nunca, nem que o mundo caia sobre mim / Nem se deus mandar nem mesmo assim."
Pasquim: O que essa mulher contribuiu para a Música Popular Brasileira não foi normal.

Quem ouve "Nunca" e "Vingança" percebe o quanto são canções amargas, de mágoa e desamor.

"Nunca" relata aquele que sofreu por amor e se recusa a perdoar, pois a perda da ilusão faz sepultar o coração... mas ao final recorre à saudade, como mensageira de um amor que o eu-lírico insiste em dizer que é passado (como foi sincero o meu amor / como eu a adorei, tempos atrás) mas que se confessa presente no final.

Para conhecer mais sobre a vida e obra de Lupicínio Rodrigues, visite o blog Famosos Que Partiram.



Nunca

Nunca!
Nem que o mundo caia sobre mim,
Nem se Deus mandar,
Nem mesmo assim,
As pazes contigo eu farei.

Nunca!
Quando a gente perde a ilusão,
Deve sepultar o coração,
Como eu sepultei.

Saudade,
Diga a esse moço, por favor,
Como foi sincero o meu amor,
Quanto eu te adorei
Tempos atrás.

Saudade,
Não se esqueça também de dizer
Que é você quem me faz adormecer
Pra que eu viva em paz.

Vingança

Vingança
Lupicínio Rodrigues
1951

"Vingança" é um dos clássicos de Lupicínio Rodrigues, juntamente com "Nunca", inspirados em Mercedes, também conhecida por Dona Carioca.

"Vingança" foi o maior sucesso comercial de Lupicínio Rodrigues. Composta como um desabafo diante da traição de Mercedes, uma de suas muitas namoradas, foi gravada por Linda Batista em 1951 e fez sucesso até no Japão.

Com o dinheiro que ganhou naquele ano, Lupicínio Rodrigues comprou um carro e batizou-o com o mesmo nome da canção.

"Toda vez que uma mulher me trai, eu ganho dinheiro", costumava dizer Lupicínio Rodrigues, afirmando que só escrevia sobre experiências vividas por ele ou por seus amigos. "As mulheres boazinhas nunca me deram dinheiro, só as que me traíram!".

"O Som do Pasquim" (Ed. Desiderata, 2009) é um livro organizado por Tárik de Souza, reunindo algumas antológicas entrevistas que o pessoal do Pasquim, Ziraldo, Jaguar e Henfil, fez com cantores e compositores nos anos 70. Segundo Jaguar, "quando o jornaleco e a MPB estavam no auge, nem a Censura conseguia segurar!".

Uma das entrevistas antológicas foi com Lupicínio Rodrigues, um dos cinco maiores compositores gaúchos de todos os tempos, que contou a história de uma série de suas canções. Lupicínio Rodrigues, pra quem não sabe, foi quem criou a expressão "dor de cotovelo", sendo ainda responsável por classificá-las em dor de cotovelo federal (que só poderia ser curada com embriaguez total),  estadual (suportável, que se ajeitava com o passar do tempo) e  municipal (incapaz até mesmo de inspirar um samba).

Duas das  músicas inspiradas numa "Dor-de-cotovelo Federal"  são "Vingança" e "Nunca" , ambas inspiradas numa mesma mulher. Lupicínio Rodrigues contou ao pasquim a história:

Lupicínio: A mulher que me inspirou "Vingança" viveu comigo seis anos. E depois terminou namorando um garoto que era meu empregado, que tinha 16, 17 anos.
Pasquim: Foi passado pra trás por um garoto de 17 anos?
Lupicínio: Não foi bem assim. É que eu tinha viajado, ela mandou chamar o garoto. Disse que queria falar com ele. Ela mandou um bilhete. O garoto com medo de mim, quando eu cheguei, me entregou o bilhete. Disse: "Olha, a Dona Carioca me mandou esse bilhete. Eu não sabia o que ela queria comigo. Não fui!". Entregou a mulher. Aí eu não disse nada, fiquei quietinho, inventei outra viagem, peguei a mala e fui embora.
Pasquim: Endoidou?
Lupicínio: Era época de carnaval, ela endoidou. Botou um "Dominó". Dominó é aquela fantasia preta que cobre tudo. No carnaval, feito louca, foi me procurar. Uma certa madrugada, ela, num fogo danado - parece que deu fome, entrou num bar onde a gente costumava comer. Foi obrigada a tirar o "Dominó" pra comer, e o pessoal a reconheceu. Perguntaram: "Ué, Carioca, que você está fazendo aqui a essa hora? Cadê o Lupi?".
Pasquim: Carioca por quê? Ela é carioca?
Lupicínio: É sim. Ela é viva, mora aqui. Aí ela começou a chorar. Eu estava num restaurante do outro lado. Uns amigos chegaram e me disseram: "Ô, encontramos a Carioca vestida de 'Dominó', num fogo tremendo. Começou a chorar e perguntar por ti. O que houve, vocês estão brigados?". Aí foi que eu fiz "Vingança". Na mesma hora, comecei, saiu (cantando): "Gostei tanto, tanto, quando me contaram..."
Pasquim: Foi uma ruptura pra valer?
Lupicínio: Eu sou muito amigo dos pais de santo, os batuqueiros lá de Porto Alegre. em cada lugar que chegava ela botava fotografia minha, cabritas, aquele negócio todo para fazer as pazes. Aí eu fiz (canta) "Nunca, nem que o mundo caia sobre mim / Nem se deus mandar nem mesmo assim."
Pasquim: O que essa mulher contribuiu para a Música Popular Brasileira não foi normal.

Quem ouve "Vingança" e "Nunca" percebe o quanto são canções amargas, de mágoa e desamor.

"Vingança" relata justamente um prazer pelo sofrimento do ser outrora amado, mas que não cede à vergonha, que na verdade é o orgulho, o sentimento da honra decorrente de uma traição. E por isso luta internamente, dizendo que, enquanto força houver no peito, o eu-lírico quer apenas vingar-se e querer o mal de quem lhe traíra.

Para conhecer mais sobre a vida e obra de Lupicínio Rodrigues, visite o blog Famosos Que Partiram.



Vingança

Eu gostei tanto,
tanto, quando me contaram.
Que lhe encontraram
bebendo e chorando
na mesa de um bar.

E que quando os amigos do peito
por mim perguntaram.
Um soluço cortou sua voz,
não lhe deixou falar.

Eu gostei tanto,
tanto, quando me contaram.
Que tive mesmo de fazer esforço
pra ninguém notar.

O remorso talvez seja a causa
do seu desespero.
Você deve estar bem consciente
do que praticou.

Me fazer passar tanta vergonha
com um companheiro.
E a vergonha
é a herança maior que meu pai me deixou.

Mas enquanto houver força em meu peito
eu não quero mais nada.
Só vingança, vingança, vingança
aos santos clamar.

Você há de rolar como as pedras
que rolam na estrada.
Sem ter nunca um cantinho de seu
pra poder descansar.

Mas enquanto houver força em meu peito
eu não quero mais nada.
Só vingança, vingança, vingança
aos santos clamar.

Você há de rolar como as pedras
que rolam na estrada.
Sem ter nunca um cantinho de seu
pra poder descansar.

domingo, 27 de julho de 2014

Esses Moços

Esses Moços
Lupicínio Rodrigues
1948

"Esses Moços" retrata o desencanto amoroso na canção de Lupicínio Rodrigues.

Dizem que Lupicínio Rodrigues é o rei da dor-de-cotovelo, aliás, foi ele quem cunhou a expressão, para quem crava os cotovelos na mesa de um bar, pede uma bebida e chora a perda da pessoa amada.

Como poucos, ele retratou a dor, muitas vezes trechos confessionais de sua própria vida. Mesmo cantando as dores de cotovelo, ele dizia que "é melhor brigar junto do que chorar separado".

Uma das suas músicas que revela maior descrença com o amor é "Esses Moços". Dizem que foi composta depois que seu amigo Hamilton Chaves, então com 22 anos, resolveu casar-se. Lupicínio Rodrigues tentou dissuadi-lo, e aí surgiu então surgiu "Esses Moços".

Os namorados Nilce e Hamilton
Vamos a história:

Hamilton e Nilce começaram a namorar em 1944. Ela se formava em Música, pela Escola de Belas Artes, e no baile de formatura eles dançaram uma vez, depois mais uma, depois uma terceira… Como todos os namorados da época, passeavam na Rua da Praia e tomavam sorvete. Em 1948, o namoro já ia longe e, depois de noivar, o casal cogitava seriamente casar-se.

Foi então que veio o conselho do amigo deles, o compositor Lupicínio Rodrigues, na forma da canção "Esses Moços". Numa primeira e inesperada audição durante a festa de aniversário de HamiltonLupicínio Rodrigues - em pé, no centro da roda de violão - convocou Nilce, deu o tom e disse: "Fiz uma musiquinha pro seu noivo!".

Desconcertada e irritada, Nilce confessaria anos mais tarde ao repórter Eduardo Veras:

"Fiquei furiosa! Eu querendo casar, e o Lupicínio me vem com essa… Quando ele terminou, me aproximei dele e só consegui dizer: Que ursada, hein?"

Mas o jovem Hamilton, felizmente, era teimoso e não deu ouvidos ao poeta.

O casamento de Hamilton e Nilce, em 1948.
"Esses Moços" parece o lamento de alguém castigado pelas dores do amor ("estas rugas que o amor me deixou"), que tenta alertar àqueles que pretendem vivenciar esse amor romântico que eles "deixam o céu, por ser escuro", e "vão ao inferno, à procura de luz". O eu-lírico, que neste caso, parece personificado no próprio Lupicínio Rodrigues, diz que já sonhou, já amou, e tudo o que lhe restou foram mágoas guardadas, de um sofrimento que passou pelos olhos, destruiu-lhe os sonhos e corrompeu-lhe o sangue.

"Esses Moços" é uma música pessimista. Quem ouvi-la com a frieza necessária, verá o lirismo e a beleza da canção. Recomendada para quem acaba de ter uma decepção amorosa, e que deve passar longe dos casais apaixonados. Fez sucesso com Francisco Alves, e foi lindamente gravada por Gilberto Gil.

Para conhecer mais sobre a vida e obra de Lupicínio Rodrigues, visite o blog Famosos Que Partiram.



Esses Moços

Esses moços, pobres moços,
ah! Se soubessem o que eu sei.
Não amavam, não passavam,
aquilo que já passei.

Por meu olhos, por meus sonhos,
por meu sangue, tudo enfim.
É que peço a esses moços,
que acreditem em mim.

Se eles julgam que há um lindo futuro,
só o amor nesta vida conduz.
Saibam que deixam o céu por ser escuro,
e vão ao inferno à procura de luz.

Eu também tive nos meus belos dias,
essa mania e muito me custou.
Pois só as mágoas que trago hoje em dia,
e estas rugas o amor me deixou.

Esses moços, pobres moços,
ah! Se soubessem o que eu sei.
Não amavam, não passavam,
aquilo que já passei.

Por meu olhos, por meus sonhos,
por meu sangue, tudo enfim.
É que peço a esses moços,
que acreditem em mim.


sábado, 5 de julho de 2014

Nervos de Aço

Nervos de Aço
Lupicínio Rodrigues
1947

"Nervos de Aço" é a dor-de-cotovelo clássica composta por Lupicínio Rodrigues para sua noiva Inah. A música trata do sofrimento de alguém que vê o ser amado na companhia de outra pessoa.

Lupicínio Rodrigues fez essa música em homenagem a um grande amor que teve na vida, a mulata Inah, que teria sido sua primeira namorada, sua primeira noiva e também sua primeira desilusão amorosa. Lupicínio Rodrigues e Inah namoraram durante seis anos, e Lupicínio não se decidia em casar, até que eles terminaram e Inah terminou se casando com outro. Disse Lupicínio Rodrigues que ela foi a única mulata de sua vida... depois disso, só teve problemas com loiras.

Certo dia, Lupicínio Rodrigues viu Inah de braço dado com o marido, sentindo um choque tremendo, misto de ciúme, despeito, amizade ou horror. Ficou assim com uma tremenda dor-de-cotovelo de uma vida, que virou dor-de-cotovelo de muitas vidas.

A música é direta, sem firulas e fala de alguém que tem um amor e se vê diante desse amor junto com um "outro qualquer". O personagem desdenha do rival, e consagra a velha expressão, "pessoas com nervos de aço, sem sangue nas veias e sem coração", e dizendo que, talvez elas, ainda assim, reagiriam passando o que Lupicínio Rodrigues passara. E termina resumindo a sensação quando vê a moça... um desejo de morte ou de dor...

Nas próprias palavras de Lupicínio Rodrigues:

"'Nervos de Aço' é também uma das grandes "dor" de cotovelo. Essa é uma história muito complicada, quando eu fui noivo pela primeira vez e encontrei minha noiva de braços com um cidadão e ela me disse que se casaria com o primeiro sujeito que ela encontrasse, nem que tivesse que morrer de fome por causa deste ato. E eu então fiz esta música que intitula-se 'Nervos de Aço'".

Para conhecer mais sobre a vida e obra de Lupicínio Rodrigues, visite o blog Famosos Que Partiram.



Nervos de Aço

Você sabe o que é ter um amor, meu senhor,
ter loucura por uma mulher.
E depois encontrar esse amor, meu senhor,
nos braços de um outro qualquer.

Você sabe o que é ter um amor, meu senhor,
e por ele quase morrer.
E depois encontrá-lo em um braço,
que nenhum pedaço do meu pode ser.

Há pessoas com nervos de aço,
sem sangue nas veias e sem coração.
Mas não sei se passando o que passo,
talvez não lhes venha qualquer reação.

Eu não sei se o que trago no peito,
é ciúme, despeito, amizade ou horror.
Eu só sei é que quando a vejo,
me dá um desejo de morte ou de dor.