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sexta-feira, 6 de junho de 2014

Na Tonga da Mironga do Kabuletê

Na Tonga da Mironga do Kabuletê
Vinícius de Moraes e Toquinho
Começo da década de 70

Vinícius de Moraes iniciava sua parceria com Toquinho, morava em Salvador e era há pouco casado com a baiana Gessy Gesse

O Brasil estava naquela fase do "Pra Frente Brasil". De um lado, o chamado "Milagre Econômico", do outro a censura, ditadura e repressão.

Vinícius de Moraes, ateu "graças a Deus", se aproximou do candomblé e seguia uma vida sem muitas regras. Um dia, estava em casa com Toquinho, quando Gessy Gesse entra pela porta e grita: "Na Songa da Mironga do Kabuletê!", afirmando que se tratava de um xingamento que ela ouvira no Mercado Modelo.

Com ToquinhoVinícius de Moraes compõe a canção para apresentá-la no Teatro Castro Alves, para a apresentação oficial da dupla. Uma forma de protesto político, afrontar os militares sem que eles tivessem consciência. Na época o Brasil era governado por uma ditadura e essa era a oportunidade de protestar sem que os militares compreendessem.

E o poeta ainda se divertia com tudo isso: "Te garanto que na Escola Superior de Guerra não tem um milico que saiba falar nagô". Assim, mudaram "songa" por "tonga"Vinícius de Moraes mandou todo mundo à "Tonga da Mironga do Kabuletê".

Mas o que significa?

Segundo o livro "Vinicius de Moraes: O Poeta da Paixão", uma biografia (Cia das Letras, 1994), significava "O pelo do cu da mãe". Procurando em sítios digitais, encontram-se outros significados, ou mesmo que a sonoridade não tem sentido nenhum.

Para conhecer mais sobre a vida e obra de Vinícius de Moraes, visite o blog Famosos Que Partiram.



Na Tonga da Mironga do Kabuletê

Eu caio de bossa
Eu sou quem eu sou
Eu saio da fossa
Xingando em nagô

Você que ouve e não fala
Você que olha e não vê
Eu vou lhe dar uma pala
Você vai ter que aprender
A tonga da mironga do kabuletê
A tonga da mironga do kabuletê
A tonga da mironga do kabuletê

Eu caio de bossa
Eu sou quem eu sou
Eu saio da fossa
Xingando em nagô

Você que lê e não sabe
Você que reza e não crê
Você que entra e não cabe
Você vai ter que viver
Na tonga da mironga do kabuletê
Na tonga da mironga do kabuletê
Na tonga da mironga do kabuletê

Você que fuma e não traga
E que não paga pra ver
Vou lhe rogar uma praga
Eu vou é mandar você
Pra tonga da mironga do kabuletê
Pra tonga da mironga do kabuletê
Pra tonga da mironga do kabuletê

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Aquarela

Aquarela
Toquinho, Guido Morra e Maurizio Fabrizio
Versão Brasileira: Toquinho
1983

Em 1982, após vários anos de apresentações na Itália, Toquinho já era um nome de destaque naquele país. O empresário Franco Fontana criara a gravadora Maracana objetivando diretamente a música brasileira, e resolvera gravar um disco com Toquinho, com músicas novas. Para isso escolheu o músico italiano Maurizio Fabrizio, que havia vencido o Festival de San Remo e que, na visão de Franco Fontana, concentrava características semelhantes às do violonista brasileiro.

Do encontro dos dois resultou uma generosa parceria, material para quatro discos entre o período de 1983 e 1994. Essas canções receberam originalmente letras em italiano, a grande maioria, de Guido Morra, e poucas  de Sergio Bardotti. Depois algumas foram vertidas para o castelhano por I. Baldacchi e outras por C. Toro. Parte delas recebeu versões de Toquinho, que as gravou também em português. Toquinho conta como teve início essa parceria:

"Quando o Franco decidiu investir nesse disco, surgiu a grande controvérsia: a parceria. Ele arriscou no Maurizio Fabrizio. Eu não sabia quem era o Maurizio. Não o conhecia, nunca o tinha visto. Aí, o Maurizio me telefonou do Aeroporto de Congonhas: 'Eu estou com uma blusa amarela, uma calça cinza e uma mala marrom te esperando'. E eu: 'Vou estar com um carro prata'. Cheguei, olhei, lembrei das dicas, ele me viu, nos acenamos, e pronto.
Fomos para casa e ele dormiu um pouco. Quando acordou, almoçamos - isso no dia em que ele chegou - e eu tinha uma pianolinha, uma coisinha ridícula - ele toca piano - então peguei meu violão e disse: 'Nós temos que fazer músicas. Vamos combinar uma coisa: o que você não gostar daquilo que eu faço, me fala. E o que eu não gostar do que você faz, eu falo. Tudo bem?'. Ele concordou e começou a mostrar uma música. Achei meio chata a primeira parte, mas quando ele entrou na segunda parte, eu gostei, lembrava a primeira parte de 'Uma Rosa Em Minha Mão', que fiz com Vinicius, em 1974, para a novela 'Fogo Sobre Terra', da Globo.
Então, toquei para ele, que, em seguida, começou com a segunda parte da música dele. Uma se encaixou na outra, naturalmente, na primeira tentativa, era a primeira música que ele me mostrava... Assim, gastamos nem três minutos para fazer a música que seria conhecida como 'Acquarello', em italiano, que é a nossa 'Aquarela'.
Achei bonita, me animei, e nos outros dias fizemos umas oito melodias. Maurizio voltou para a Itália para criar os arranjos e trabalhar com o letrista, o Guido Morra, que fez as letras de todas as nossas canções. Quando cheguei na Itália, em novembro de 1982, para fazer a temporada de shows e gravar o disco, nunca me esqueço, estava num restaurante e eles apareceram com todas as letras já datilografadas. 'Vamos mostrar todas as letras para você, e deixar por último, aquela pela qual todos estão encantados'.
Eu não confiava nessa música como música de sucesso, nem imaginava isso. Para mim, era só uma canção de meio de disco. Então, me mostraram todas as letras e, por fim, a última: 'Acquarello'. É uma letra mágica: desperta a criança que carregamos dentro de nós, reforça o romantismo da amizade, aviva as delícias de se ganhar o mundo com a rapidez moderna, e, por fim, nos alerta para o enigma do futuro que guarda em seu bojo a implacável ação do tempo, fazendo tudo perder a cor, perder o viço, perder a força.
Gravei o disco e fizemos o lançamento em Sanremo. Depois da primeira apresentação de 'Acquarello', começaram a pipocar comentários os mais maravilhosos, o disco saiu com 30 mil cópias, que se esgotaram no segundo dia. Essa música tem realmente um aspecto emocional muito forte, um apelo comercial, as pessoas ouvem e se envolvem. De repente, o Franco passou a me telefonar: 'Olha, a música estourou por aqui, está nos primeiros lugares das paradas'. Voltei lá para fazer promoção, aí, ninguém segurou mais.
Fui o primeiro artista brasileiro a ganhar um Disco de Ouro na Itália - 100.000 cópias, como aqui. Virei artista popular fora do Brasil! Então, resolveu-se gravar a música em português. Quando conheci a letra, ainda na Itália, me empolguei em fazer a tradução. Sabia que encontraria dificuldades, pois é uma letra grande, as rimas tinham de ser precisas. Mudei muita coisa na forma de dizer, para poder conservar em nossa língua, a mesma magia atingida pelo 'Morra', em italiano. E começou a sair um negócio bonito, nem eu mesmo sabia o que era. Mesmo assim, achava a letra muito grande. Mas não deu outra coisa. Saiu aqui e foi outro estouro igual. Na Espanha, a mesma coisa. Na Argentina, na França, em todo lugar. Aqui no Brasil virou tema de publicidade, tarefa de escola para a criançada, e até hoje é exigida e cantada nos shows, como na época de seu lançamento. 'Aquarela' foi um marco em minha carreira, como seria na de qualquer outro. Uma coisa definitiva na vida de um compositor.
'Aquarela' é uma música que tem algo melhor, quem sabe a força da ingenuidade infantil ligada a um encanto popular que emociona. O primeiro acorde já levanta as pessoas. Consolidou-me, tanto na Itália como aqui, na América do Sul e na Europa. A partir daí as pessoas me reconheceram também como instrumentista, tornei-me popular."



Aquarela

Numa folha qualquer
Eu desenho um sol amarelo.
E com cinco ou seis retas
É fácil fazer um castelo.

Corro o lápis em torno
Da mão e me dou uma luva.
E se faço chover
Com dois riscos tenho um guarda-chuva.

Se um pinguinho de tinta
Cai num pedacinho azul do papel.
Num instante imagino
Uma linda gaivota a voar no céu.

Vai voando
Contornando a imensa curva Norte e Sul.
Vou com ela
Viajando Havaí, Pequim ou Istambul.
Pinto um barco a vela
Brando navegando
É tanto céu e mar
Num beijo azul.

Entre as nuvens
Vem surgindo um lindo
Avião rosa e grená.
Tudo em volta colorindo
Com suas luzes a piscar.

Basta imaginar e ele está
Partindo, sereno e lindo
Se a gente quiser
Ele vai pousar.

Numa folha qualquer
Eu desenho um navio de partida
Com alguns bons amigos
Bebendo de bem com a vida.

De uma América a outra
Eu consigo passar num segundo.
Giro um simples compasso
E num círculo eu faço o mundo.

Um menino caminha
E caminhando chega no muro
E ali logo em frente
A esperar pela gente o futuro está.

E o futuro é uma astronave
Que tentamos pilotar.
Não tem tempo, nem piedade
Nem tem hora de chegar.
Sem pedir licença muda a nossa vida
E depois convida a rir ou chorar.

Nessa estrada não nos cabe
Conhecer ou ver o que virá.
O fim dela ninguém sabe
Bem ao certo onde vai dar

Vamos todos
Numa linda passarela de uma aquarela
Que um dia enfim
Descolorirá.

Numa folha qualquer
Eu desenho um sol amarelo
(Que descolorirá!)
E com cinco ou seis retas
É fácil fazer um castelo
(Que descolorirá!)
Giro um simples compasso
Num círculo eu faço o mundo
(Que descolorirá!)


Fonte: Website Oficial do Toquinho