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quarta-feira, 22 de abril de 2015

Ai Que Saudades da Amélia

Ai Que Saudades da Amélia
1942
Ataulfo Alves e Mário Lago

"Aí que saudades da Amélia, aquilo sim é que era mulher!"

A quantidade de sambas imortais que Ataulfo Alves criou é impressionante. O motivo? Ele poderia, quem sabe, responder dizendo o nome de um de seus sambas: "É Um Quê Que a Gente Tem". Pois é, Ataulfo Alves tinha aquele quê, um modo de dizer e sentir as coisas que penetrava direto na alma popular. É certo que nem sempre seus sucessos foram espontâneos e que muitas vezes ele teve que dar uma mãozinha extra para que o samba fosse bem executado nas rádios, mas isso não tira o valor e a grande força comunicativa da sua canção.

Para ilustrar e encurtar a estória, depois de "Ai, Que Saudades da Amélia", o nome de Amélia ganhou novo sentido, o de companheira fiel, que ficava ao lado de seu homem mesmo diante das dificuldades da vida e foi parar no dicionário de Aurélio Buarque de Holanda como "Mulher que aceita toda sorte de privações e/ou vexames sem reclamar, por amor a seu homem". É a canção popular criando um novo sentido para uma palavra.

A música "Ai, Que Saudades da Amélia", teve como inspiração, segundo pesquisadores, um fato real. A história foi contada por pessoas do ciclo de amizade dos dois autores com pequenas alterações nas versões. De forma resumida o fato foi o seguinte:

O baterista Almeidinha, irmão de Aracy de Almeida,  contava em rodas de amigos, no Café Nice, que a cantora Aracy de Almeida, sua irmã, tinha uma lavadeira de dar inveja a qualquer dona de casa. O baterista, ao se referir às mulheres da época, costumava brincar, exaltando os predicados da doméstica. Entre outros comentários, dizia coisas como:

"Amélia era que era mulher. Amélia lavava, passava, cozinhava... Amélia era solidária ao seu homem, e passava fome ao seu lado e achava bonito não ter o que comer... e o dinheiro que ela ganhava o marido bebia... Ai! que saudades da Amélia!"

Hoje a brincadeira seria considerada machista, mas, na época, Mário Lago percebeu que ali dava samba do bom. Escreveu a letra e passou para seu parceiro Ataulfo Alves que alterou, a contragosto do letrista, alguns versos para adaptá-los à melodia.

Brincadeira sem graça, machista, que via a mulher como empregada, obediente, submissa, trabalhadeira... Mas que originou este samba genial. Disse Mário de Andrade:

"Gostei, sim, muitíssimo do 'Amélia', é das coisas mais cariocas que se pode imaginar. (...) Ora, o sujeito estoura naquela bruta saudade da Amélia, só porque está sentindo dificuldade com a nova, você já viu coisa mais humana e misturadamente humana? Tem despeito, tem esperteza, tem desabafo, tristeza, ironia, safadeza de malandro, tem ingenuidade, tem pureza lamacenta: É genial. Acho das manifestações mais complexas que há como psicologia coletiva!"

Em 1942 Ataulfo Alves estava em situação financeira difícil e, depois de oferecer inutilmente um novo samba a vários intérpretes da época. Inexplicavelmente, a dupla não conseguiu quem quisesse gravar o samba e o jeito foi o próprio Ataulfo Alves gravá-lo, embora não se considerasse bom cantor. Resolveu ele mesmo lançar, com o acompanhamento do seu grupo Academia do Samba e a introdução do bandolim de Jacob Bittencourt, o samba "Ai Que Saudades da Amélia", em parceria com Mário Lago.

O resto todo mundo sabe: "Ai, Que Saudades da Amélia" logo virou um imenso sucesso, tornando-se um dos sambas mais conhecidos da história da Música Popular Brasileira. 

Como disse o jornalista Hugo Sukman, "'Amélia' elevaria Ataulfo Alves à condição de um dos maiores artistas da cultura brasileira, um artista que mudou para sempre o sentido da palavra Amélia!".

Um dos elementos que caracteriza os sambas de Ataulfo Alves é que eles estão repletos de ditos populares: "Morre o homem, fica a fama", "Atire a primeira pedra", "Perdão foi feito pra gente pedir",  "Laranja madura, na beira da estrada...", "Eu era feliz e não sabia", "Quem é bom já nasce feito", "Pretensão e água benta, cada um toma o que quer", "Nessa vida tudo passa", e tantos outros.

Para conhecer mais sobre a vida e obra de Ataulfo Alves Mário Lago, conheça o blog Famosos Que Partiram.



Ai Que Saudades da Amélia

Nunca vi fazer tanta exigência
Nem fazer o que você me faz
Você não sabe o que é consciência
Não vê que eu sou um pobre rapaz

Você só pensa em luxo e riqueza
Tudo que você vê você quer
Ai, meu Deus, que saudade da Amélia
Aquilo sim é que era mulher

Às vezes passava fome ao meu lado
E achava bonito não ter o que comer
E quando me via contrariado
Dizia: Meu filho, que se há de fazer?

Amélia não tinha a menor vaidade
Amélia é que era mulher de verdade
Amélia não tinha a menor vaidade
Amélia é que era mulher de verdade

Às vezes passava fome ao meu lado
E achava bonito não ter o que comer
E quando me via contrariado
Dizia: Meu filho, que se há de fazer?

Amélia não tinha a menor vaidade
Amélia é que era mulher de verdade
Amélia não tinha a menor vaidade
Amélia é que era mulher de verdade

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Aurora

Aurora
Mário Lago e Roberto Roberti
1940

"Aurora", uma das mais populares marchinhas do Carnaval brasileiro, talvez seja a música carnavalesca composta mais próximo do Carnaval e, ao mesmo tempo, a mais distante do período momino. Explico: a marcha foi criada, acreditem, numa quarta-feira de cinzas, início de um período em que as pessoas, cansadas da maratona do Carnaval, geralmente entram na melancolia desse dia insosso e não querem mais ouvir nada referente à folia.

O compositor Roberto Roberti, naquela inspirada quarta-feira de 1940, procurou eufórico o seu amigo Mário Lago, com o famoso estribilho da música, mas só tinha a famosa frase "Se você fosse sincera... Ô, ô, ô, ô  Aurora...", o resto complementava com o velho recurso do lá, lá, lá.

Aflito e antevendo o sucesso da música, apelou para o parceiro para que o ajudasse na conclusão da obra.

Mário Lago contou em entrevista que, mesmo sem muito interesse, ajudou rapidamente na complementação da marchinha que iria entrar para história do Carnaval um ano depois, nas vozes da dupla Joel e GauchoCarmen Miranda se encarregou de divulgar a marcha nos Estados Unidos, onde teve 17 gravações.

O  sucesso foi tanto que recebeu letra em inglês, versão gravada pelas Andrew Sisters. A música  também foi  incluída no filme "Segure o Fantasma", da dupla Abbot & Costello.

Para conhecer mais sobre a vida e obra de Mário Lago e Roberto Roberti, visite o blog Famosos Que Partiram.



Aurora

Se você fosse sincera,
Ô ô ô ô Aurora.
Veja só que bom que era,
Ô ô ô ô Aurora. (2X)

Um lindo apartamento
com porteiro e elevador.
E ar refrigerado
para os dias de calor.
Madame antes do nome
você teria agora
Ô ô ô ô Aurora

Se você fosse sincera,
Ô ô ô ô Aurora.
Veja só que bom que era,
Ô ô ô ô Aurora. (2X)

Um lindo apartamento
com porteiro e elevador.
E ar refrigerado
para os dias de calor.
Madame antes do nome
você teria agora
Ô ô ô ô Aurora

Se você fosse sincera,
Ô ô ô ô Aurora.
Veja só que bom que era,
Ô ô ô ô Aurora. (2X)