quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Mora Na Filosofia

Mora Na Filosofia
Monsueto Menezes e Arnaldo Passos
1955

"Mora na Filosofia", com uma letra extremamente bem elaborada, foi escolhido pelo júri como o samba com a melhor letra do ano, e com uma música mais do que perfeita, feito através da parceria de Monsueto Menezes e Arnaldo Passos.

Hoje em dia, "Mora na Filosofia" é considerado um dos mais belos sambas da história da Música Popular Brasileira.

Qualquer decisão que se tome exige uma avaliação criteriosa, pensada, refletida. Não deixa de ser um exercício de filosofia. É esse o tema do samba que se tornou um clássico, composto por Monsueto Menezes e Arnaldo Passos, em 1955, gravado originalmente por Marlene, e na década de 70 recebeu a magistral interpretação de Caetano Veloso.

Na música o "eu lírico", depois de fazer suas análises de comportamento da mulher com quem vivia uma relação amorosa, resolve por fim àquela história, encerrar o envolvimento sentimental.

Eu vou lhe dar a decisão
Botei na balança e você não pesou
Botei na peneira e você não passou

Como se diz, geralmente, quando se chega a uma conclusão: já tenho o "veredito!". Com cuidado fez todas as apreciações necessárias no caso. Quando se coloca algo na balança e esse algo sequer mexe os ponteiros, indicando seu peso, é sinal de que não vale nada. A peneira é um instrumento que permite depurar o que é importante e útil. Se nada passar é porque nada serve, pode ser desconsiderado, preterido. Esse foi o resultado ao avaliar melhor aquela mulher, que até então tinha como seu amor.

Mora na filosofia
Pra que rimar amor e dor

A sabedoria popular já nos ensinou que não dá para compatibilizar prazer e sofrimento. Não dá para rimar essas duas expressões de sentimento e emoção. Não se ajustam, não se harmonizam, não combinam.

Se seu corpo ficasse marcado
Por lábios ou mãos carinhosas
Eu saberia, ora vá mulher
A quantos você pertencia

Imagina que, se beijos e carícias deixassem marcas no corpo, ele não teria dificuldade em perceber quantas foram às vezes em que ela se entregou a outros parceiros. Pede que não insista em querer enganá-lo.

Não vou preocupar em ver
Seu caso não é de ver pra crer
Tá na cara

No entanto, não faz disso uma preocupação. Nem precisa ter as provas, "ver pra crer", está estampada no seu rosto a prática da infidelidade, "tá na cara" que ela não é a mulher da sua vida.

Para conhecer mais sobre a vida e obra de Monsueto Menezes, visite o blog Famosos Que Partiram.



Mora na Filosofia

Eu vou lhe dar a decisão:
Botei na balança e você não pesou.
Botei na peneira e você não passou.
Mora na filosofia pra quê rimar amor e dor.
Mora na filosofia pra quê rimar amor e dor.

Se seu corpo ficasse marcado,
por lábios ou mãos carinhosas.
Eu saberia, ora vai mulher,
a quantos você pertencia.
Não vou me preocupar em ver,
seu caso não é de ver pra crer.
Tá na cara!

Eu vou lhe dar a decisão:
Botei na balança e você não pesou.
Botei na peneira e você não passou.
Mora na filosofia pra quê rimar amor e dor.
Mora na filosofia pra quê rimar amor e dor.

Se seu corpo ficasse marcado,
por lábios ou mãos carinhosas.
Eu saberia, ora vai mulher,
a quantos você pertencia.
Não vou me preocupar em ver,
seu caso não é de ver pra crer.
Tá na cara!


Fonte: Crônicas "Pensando Através da Música" (Rui Leitão)

domingo, 24 de agosto de 2014

Beijos Pela Noite

Beijos Pela Noite
Carlos Lacerda, Jorge Amado e Dorival Caymmi

Foi em um encontro especial de vários amigos, em uma aprazível fazenda de propriedade de Carlos Lacerda chamada Quindins, em Vassouras, estado do Rio de Janeiro, que seria criada uma canção envolvendo parceiros improváveis.

Dorival Caymmi já iniciava sua carreira de grande compositor, já o escritor Jorge Amado e o político e jornalista Carlos Lacerda, entretanto, não tinham histórico musicais.

Talvez a beleza do ambiente e o papo agradável do grupo de amigos presentes, entre eles os jornalista Samuel Wainer e Otávio Malta, além de alguns aperitivos a mais, propiciaram, naquela noite enluarada, a criação da música "Beijos Pela Noite", uma comovente seresta, nas palavras de Fernando Lobo "música saída das confraternizações entre amigos, das emoções e das carências de pessoas sensíveis como Jorge AmadoDorival Caymmi e Carlos Lacerda".

A história do memorável encontro foi contada por Dorival Caymmi com detalhes no livro "Dorival Caymmi - O Mar e o Tempo", escrito por Stela Caymmi:

"... À noite, na varanda, [...] ocorreu a nós uma brincadeira. [...] Samuel tentou entrar com um verso ali, uma frase, uma coisa qualquer, mas não colou. A censura era entre eles, os letristas. Eu entrei com a melodia logo fácil e dei a partida na letra: 'aqui o teu corpo nos meus braços'.
Aí entrou Jorge 'nossos passos pela estrada, nossos beijos pela noite, e a lua'.
Quando cantei 'aqui...' estava com Quindins na cabeça, a ideia do lugar e sua beleza. Ocorreu tudo ao mesmo tempo. A gente nunca soube direito de quem partiu cada frase, se foi Malta, Samuel, Jorge ou Lacerda.Mas tem um pedaço que é bem Carlos Lacerda: 'Nosso amor adolescente poderá recomeçar'.
Todos davam palpites, mas os autores da letra mesmo foram Jorge Amado e Carlos Lacerda. O título 'Beijos Pela Noite' foi colocado depois. Jorge era o escriba da letra."

Para conhecer mais sobre a vida e obra de Jorge AmadoCarlos LacerdaDorival Caymmi Samuel Wainer, visite o blog Famosos Que Partiram.



Beijos Pela Noite

Aqui, o teu corpo nos meus braços,
nossos passos pela estrada,
nossos beijos pela noite.
E a Lua, pelos campos minha amada,
pelos bosques, pelas águas,
acompanha o nosso amor.

Hoje, já passado tanto tempo,
pela noite escura e triste,
pelas frias alamedas.
A chuva apaga a marca dos teus passos,
no caminho abandonado,
a saudade é o meu luar.

Aqui, o teu corpo nos meus braços,
nossos passos pela estrada,
nossos beijos pela noite.
E a Lua, pelos campos minha amada,
pelos bosques, pelas águas,
acompanha o nosso amor.

Um dia sentirás a mocidade,
no teu corpo fatigado,
da saudade dos caminhos.
E então, sobre a lembrança dos meus beijos,
nosso amor adolescente poderá recomeçar.

Aqui, o teu corpo nos meus braços,
nossos passos pela estrada,
nossos beijos pela noite.
E a Lua, pelos campos minha amada,
pelos bosques, pelas águas,
acompanha o nosso amor.

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Cajuína

Cajuína
Caetano Veloso
1979

Por trás da música "Cajuína" existe uma história comovedora e que serviu de inspiração para o seu autor, o tropicalista Caetano Veloso. O baiano contou, durante uma apresentação em um programa de televisão, que o argumento da letra foi inspirado em um encontro com o pai do compositor, poeta, escritor e jornalista Torquato Neto, um de seus principais parceiros na Tropicália, autor de várias músicas, dentre elas, o clássico "Pra Dizer Adeus", em parceria com  Edu Lobo.

Torquato Neto foi um dos mentores intelectuais do movimento tropicalista, tendo escrito o breviário "Tropicalismo Para Principiantes" onde defendeu a necessidade de criar um pop genuinamente brasileiro. Foi também importante letrista de canções icônicas do movimento como "Geléia Geral", musicada por Gilberto Gil.

No final da década de 60, quatro dias após o Ato Institucional Nº 5 (AI-5) ser decretado, Torquato Neto viajou para Londres, onde morou por um breve período. De volta ao brasil, no início dos anos 70, começou a se isolar, sentindo-se alienado tanto pelo Regime Militar quanto pela "Patrulha Ideológica" de esquerda. Havia rompido com os amigos Tropicalistas e do Cinema Novo, declarava se sentir mais deprimido e, por vontade própria, se internou no Sanatório do Engenho de Dentro, sendo tratado com doses fortes do calmante Mutabon D.

Em 1972, aos 28 anos, Torquato Neto trancou-se no banheiro e ligou o gás, sendo encontrado morto no dia seguinte pela empregada. Deixou um bilhete de despedida que dizia:

"Tenho saudade, como os cariocas, do dia em que sentia e achava que era dia de cego. De modo que fico sossegado por aqui mesmo, enquanto durar. Para mim, chega! Não sacudam demais o Thiago que ele pode acordar."

Thiago era o filho de Torquato Neto de três anos de idade.

Caetano Veloso, nesse período, estava afastado do amigo.

No final dos anos 70, excursionando pelo Brasil com o show "Muito", Caetano Veloso chegou à Teresina, cidade natal de Torquato Neto, e recebeu no hotel, a visita do Drº Heli da Rocha, pai do amigo falecido. Caetano Veloso contou como foi esse encontro e como surgiu a inspiração para compor a música "Cajuína":

Torquato Neto e Caetano Veloso
"Eu já o conhecia pois ele tinha vindo ao Rio de Janeiro umas duas vezes. Mas era a primeira vez que eu o via depois do suicídio de Torquato Neto.
Torquato Neto estava, de certa forma, afastado das pessoas todas. Mas eu não o via desde minha chegada a Londres: Dedé e eu morávamos na Bahia e ele, no Rio de Janeiro, com temporadas em Teresina, onde descansava das internações a que se submeteu por instabilidade mental agravada, ao que se diz, pelo álcool.
Eu não o vira em Londres: Ele estivera na Europa mas voltara ao Brasil justo antes de minha chegada a Londres. Assim, estávamos de fato bastante afastados, embora sem ressentimentos ou hostilidades. Eu queria muito bem a ele. Discordava da atitude agressiva que ele adotou contra o Cinema Novo na coluna que escrevia, mas nunca cheguei sequer a dizer-lhe isso.
No dia em que ele se matou, eu estava recebendo Chico Buarque em Salvador para fazermos aquele show que virou disco famoso. Torquato tinha se aproximado muito de Chico, logo antes do Tropicalismo, entre 1966 e 1967. A ponto de estar mais frequentemente com Chico do que comigo.
Chico e eu recebemos a notícia quando íamos sair para o Teatro Castro Alves. Ficamos abalados e falamos sobre isso. E sobre Torquato Neto ter estado longe e mal. Mas eu não chorei. Senti uma dureza de ânimo dentro de mim. Me senti um tanto amargo e triste, mas pouco sentimental.
Quando, anos depois, encontrei Drº Heli, que sempre foi uma pessoa adorável, parecidíssimo com Torquato, e a quem Torquato amava com grande ternura, essa dureza amarga se desfez. E eu chorei durante horas, sem parar. Drº Heli me consolava carinhosamente. Levou-me a sua casa. Dona Salomé, a mãe de Torquato, estava hospitalizada. Então ficamos só ele e eu na casa. Ele não dizia nada. Tirou uma Rosa-Menina do jardim e me deu. Me mostrou as muitas fotografias de Torquato distribuídas pelas paredes da casa. Serviu cajuína para nós dois. E bebemos lentamente.
Durante todo o tempo eu chorava. Diferentemente do dia da morte de Torquato, eu não estava triste nem amargo. Era um sentimento terno e bom, amoroso, dirigido a Drº Heli e a Torquato, à vida. Mas era intenso demais e eu chorei.
No dia seguinte, já na próxima cidade da excursão, escrevi 'Cajuína'."

Para conhecer mais sobre a vida e obra de Torquato Neto, visite o blog Famosos Que Partiram.



Cajuína

Existirmos: a que será que se destina?
Pois quando tu me deste a rosa pequenina.
Vi que és um homem lindo e que se acaso a sina,
Do menino infeliz não se nos ilumina.
Tampouco turva-se a lágrima nordestina,
Apenas a matéria vida era tão fina.
E éramos olharmo-nos intacta retina,
A cajuína cristalina em Teresina.


quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Aurora

Aurora
Mário Lago e Roberto Roberti
1940

"Aurora", uma das mais populares marchinhas do Carnaval brasileiro, talvez seja a música carnavalesca composta mais próximo do Carnaval e, ao mesmo tempo, a mais distante do período momino. Explico: a marcha foi criada, acreditem, numa quarta-feira de cinzas, início de um período em que as pessoas, cansadas da maratona do Carnaval, geralmente entram na melancolia desse dia insosso e não querem mais ouvir nada referente à folia.

O compositor Roberto Roberti, naquela inspirada quarta-feira de 1940, procurou eufórico o seu amigo Mário Lago, com o famoso estribilho da música, mas só tinha a famosa frase "Se você fosse sincera... Ô, ô, ô, ô  Aurora...", o resto complementava com o velho recurso do lá, lá, lá.

Aflito e antevendo o sucesso da música, apelou para o parceiro para que o ajudasse na conclusão da obra.

Mário Lago contou em entrevista que, mesmo sem muito interesse, ajudou rapidamente na complementação da marchinha que iria entrar para história do Carnaval um ano depois, nas vozes da dupla Joel e GauchoCarmen Miranda se encarregou de divulgar a marcha nos Estados Unidos, onde teve 17 gravações.

O  sucesso foi tanto que recebeu letra em inglês, versão gravada pelas Andrew Sisters. A música  também foi  incluída no filme "Segure o Fantasma", da dupla Abbot & Costello.

Para conhecer mais sobre a vida e obra de Mário Lago e Roberto Roberti, visite o blog Famosos Que Partiram.



Aurora

Se você fosse sincera,
Ô ô ô ô Aurora.
Veja só que bom que era,
Ô ô ô ô Aurora. (2X)

Um lindo apartamento
com porteiro e elevador.
E ar refrigerado
para os dias de calor.
Madame antes do nome
você teria agora
Ô ô ô ô Aurora

Se você fosse sincera,
Ô ô ô ô Aurora.
Veja só que bom que era,
Ô ô ô ô Aurora. (2X)

Um lindo apartamento
com porteiro e elevador.
E ar refrigerado
para os dias de calor.
Madame antes do nome
você teria agora
Ô ô ô ô Aurora

Se você fosse sincera,
Ô ô ô ô Aurora.
Veja só que bom que era,
Ô ô ô ô Aurora. (2X)

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

O Pequeno Burguês

O Pequeno Burguês
Martinho da Vila
1969

Em meados dos anos 60, o então sargento Martinho viu um colega de farda se formar em Direito. Sargentos advogados, naquele tempo, não era coisa comum, e os colegas de patente, orgulhosos do feito do companheiro, combinaram ir à formatura fardados para prestar homenagem ao sargento e advogado Xavier.

Ocorre que o formando resolveu tirar férias e não convidou nenhum dos amigos de trabalho para a formatura. Indignados com a desfeita, todos os sargentos, inclusive Martinho, resolveram dar um "gelo" no colega a quem tacharam de Novo Burguês. Ninguém falava com o coitado que, inocentemente,  não entendia o que estava acontecendo.

Certo dia, o rejeitado sargento Xavier encontrou-se com Martinho da Vila em um bar e resolveu passar o assunto a limpo. Depois de muita insistência, Martinho da Vila resolveu contar o motivo do desprezo.

Aliviado, o novo advogado esclareceu a situação: Na verdade, nem mesmo ele havia ido ao baile de formatura. Salário de sargento era baixo e não dava para comprar paletó, beca, anel e outras exigências formais para participar do evento. Informou, ainda, que recebera o "canudo", posteriormente, diretamente do diretor da faculdade.

Embora ganhasse a vida como sargento, Martinho da Vila já era um bom compositor na época e a história foi um grande argumento para compor "O Pequeno Burguês", um dos maiores sucessos do grande sambista de Vila Isabel e, até hoje, considerada um verdadeiro hino dos vestibulandos vitoriosos.

A história foi contada pelo próprio Martinho a Vila, no "Programa Sarau", apresentado pelo jornalista Chico Pinheiro.



O Pequeno Burguês

Felicidade!
Passei no vestibular
Mas a faculdade
é particular.
Particular!
Ela é particular!
Particular!
Ela é particular!

Livros tão caros,
tanta taxa pra pagar.
Meu dinheiro muito raro,
alguém teve que emprestar.

O meu dinheiro,
alguém teve que emprestar.
O meu dinheiro,
alguém teve que emprestar.

Morei no subúrbio,
andei de trem atrasado.
Do trabalho ia pra aula,
sem jantar e bem cansado.
Mas lá em casa a meia-noite,
tinha sempre a me esperar:
Um punhado de problemas
e criança pra criar.

Para criar!
Só criança pra criar.
Para criar!
Só criança pra criar.

Mas felizmente
eu consegui me formar.
Mas da minha formatura
não cheguei participar.
Faltou dinheiro pra beca
e também pro meu anel.
Nem o diretor careca
entregou o meu papel.

O meu papel!
Meu canudo de papel.
O meu papel!
Meu canudo de papel.

E depois de tantos anos,
só decepções, desenganos.
Dizem que sou um burguês
muito privilegiado.
Mas burgueses são vocês,
Eu não passo de um pobre coitado.
E quem quiser ser como eu,
vai ter é que penar um bocado.

Um bom bocado!
Vai penar um bom bocado.
Um bom bocado!
Vai penar um bom bocado.
Um bom bocado!
Vai penar um bom bocado.


Fonte: Dr. Zem

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Coração de Papel

Coração de Papel
Sérgio Reis
1967

Atualmente, quem vê ou escuta Sérgio Reis identifica e pensa imediatamente em música sertaneja. Mas não foi sempre assim. Se estivéssemos, digamos em 1967, Sérgio Reis seria identificado com uma musicalidade urbana e com a Jovem Guarda. Inclusive, poucos sabem que ele começou cantando rock com o nome artístico "Johnny Johnson".

O seu primeiro sucesso foi "Coração de Papel", e deve-se a uma briga com sua então namorada, Ruth. Narram então a história da canção Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello, na sua conhecida obra "A Canção No Tempo Vol. 2".

Magoado por haver brigado com a namorada Ruth, Sérgio Reis dedilhava o violão, enquanto aguardava o almoço, preparado por Dona Clara, sua mãe. Como estava demorando, resolveu escrever uma letra, mas logo desistiu da tarefa e, ao jogar fora o papel, comentou para Dona Clara:

"Meu coração está amassado como aquela bola de papel"

De repente, percebendo que a imagem poderia funcionar como motivo para uma canção, retomou o violão e compôs em poucos minutos "Coração de Papel", terminando-a antes mesmo do almoço ficar pronto.

Dias depois, vindo à sua casa o produtor Tony Campello, em busca de repertório para a dupla Deny e Dino, gostou tanto da composição que acabou sugerindo uma fita demo com o próprio Sérgio Reis, o mais indicado para cantar sua pungente melodia.

Aprovada por Milton Miranda, diretor da Odeon, "Coração de Papel" foi gravada por Sérgio Reis num compacto duplo, acompanhado pela orquestra de Peruzzi, com o reforço vocal dos Fevers, Golden Boys e Trio Esperança.

A música tornou-se um grande sucesso, levando Sérgio Reis a apresentar-se na TV Record nos programas da Jovem Guarda. No mesmo ano em que foi lançada, 1967, recebeu o Troféu Chico Viola por "Coração de Papel".

Apesar de bem executada nas rádios, a composição recebeu um impulso definitivo do Chacrinha, que durante oito semanas ofereceu um prêmio de mil cruzeiros novos ao calouro que melhor a interpretasse.



Coração de Papel

Se você pensa que meu coração é de papel
Não vá pensando pois não é
Ele é igualzinho ao seu e sofre como eu
Por que fazer chorar assim a quem lhe ama

Se você pensa em fazer chorar a quem lhe quer
A quem só pensa em você
Um dia sentirá que amar é bom demais
Não jogue amor ao léu
Meu coração que não é de papel

Porque fazer chorar porque fazer sofrer
Um coração que só lhe quer
O amor é lindo eu sei e todo eu lhe dei
Você não quis jogou ao léu
Meu coração que não é de papel

Porque fazer sofrer porque fazer chorar
Um coração que só lhe quer
O amor é lindo eu sei e todo eu lhe dei
Você não quis jogou ao léu
Meu coração que não é de papel

Meu coração que não é de papel
Meu coração que não é de papel