sexta-feira, 27 de junho de 2014

Linda Flor / Meiga Flor / Iaiá (Ai, Ioiô)

Linda Flor  /  Meiga Flor  /  Iaiá (Ai Ioiô)
Melodia de Henrique Vogeler
Letra de Cândido Costa, Freire Júnior e Luis Peixoto
1929

Esta melodia de Henrique Vogeler recebeu três letras diferentes. A primeira, "Linda Flor" de Cândido Costa, para a peça "A Verdade do Meio-Dia", a segunda, "Meiga Flor" de Freire Junior e a definitiva "Iaiá" de Luis Peixoto para a peça "Miss Brasil". As três foram gravadas, a primeira por Vicente Celestino, a segunda por Francisco Alves e a terceira que fez mais sucesso, por Aracy Cortes.

Segundo os musicólogos Ary Vasconcelos e José Ramos Tinhorão foi a primeira música a ser considerada samba-canção. A certidão de nascimento do gênero samba-canção consta de uma nota publicada na revista Phonoarte de 30/03/1929:

"Yayá (Linda Flor) , o samba-canção que todos conhecem e que, no último carnaval, foi um dos seus mais ruidosos sucessos, acha-se impresso pela Casa Vieira Machado."

Linda Flor

Qual foi o primeiro samba-canção da música brasileira? O samba canção, ritmo musical que substituiu a modinha como modelo de música romântica nacional, atingiu seu auge nas décadas de 40 e 50, e serviu de antítese para o surgimento da bossa-nova, no final da década de 50.

Embora atualmente não seja o ritmo romântico mais frequente, ele continua no imaginário nacional. E foram buscar em José Ramos Tinhaorão, na sua pequena história da Música Popular Brasileira, a história da primeira, e bela, música a ser gravada e registrada como samba-canção. E a música teve 3 letras distintas. Trata-se de "Linda Flor", também conhecida como "Ai, Ioiô". Segue a história:

Em agosto de 1928, quando o empresário Pascoal Segreto organizou no Rio de Janeiro a Companhia de Teatro Cômico, para atuar no Teatro Carlos Gomes, da Praça Tiradentes, então centro do teatro musicado carioca, a peça escolhida para a estréia foi a comédia do argentino J. G. Traversa, intitulada "A Verdade Ao Meio-Dia", adaptada por Celestino Silva.

Como a peça abria com uma das personagens cantando uma canção, o maestro Henrique Vogeler foi escolhido para compor o número musical de abertura, cuja interpretação ficaria a cargo da atriz Dulce de Almeida, enquanto a atriz Gui Martinelli fingia acompanha-la ao piano. Henrique Vogeler, que havia dez anos produzia músicas regularmente para o Teatro de Revista - ele estreou em 1919 com a opereta "Sinhá", no próprio Teatro Carlos Gomes -, compôs então a melodia do primeiro samba-canção, e para a qual o autor de peças teatrais Cândido Costa escreveria os versos intitulados "Linda Flor":

Autor: Henrique Vogeler - Cândido Costa
Título: Linda Flor
Gênero: Samba Canção
Intérprete: Vicente Celestino
Gravadora: Odeon
Número: 10338-A
Matriz: 2255
Data Lançamento: Mar/1929

Linda flor,
Tu não sabes, talvez,
Quanto é puro o amor,
Que me inspira, não crês...
Nem
Sobre mim teu olhar
Veio um dia pousar!...
E ainda aumenta a minha dor
Com cruel desdém!
Teu amor
Tu por fim me darás,
E o grande fervor
Com que te amo verás...
Sim
Teu escravo serei,
E a teus pés cairei
Ao te ver, minha enfim.
Felizes então, minha flor
Veras a extensão deste amor
Ditosos os dois, e unidos enfim
Teremos depois só venturas sem fim!

Como era natural, relembraria por ocasião da morte de Henrique Vogeler, em 1944, um cronista de teatro carioca que se assinava L. R.

"O número cantado no início de uma comédia, por uma jeune fille, encostada ao piano, em trajo de soirée, não despertou a menor atenção. Passou em branca nuvem. Vogeler, porém, tinha verdadeira paixão pelo seu número, e com razão."

A paixão de Henrique Vogeler se explicava, naturalmente, pela consciência de ter criado alguma coisa de novo para época em termos de canção. E a prova estaria em que, apesar de "Linda Flor" ter passado despercebido no teatro, Henrique Vogeler ia fazer com que o cantor Vicente Celestino a gravasse imediatamente em disco na gravadora Odeon, de selo azul, quando apareceu pela primeira vez numa etiqueta a expressão samba-canção brasileiro.

Vicente Celestino, então no apogeu dos seus dotes vocais de tendências operísticas, como bem lembraria o jornalista José Lino Grünvald, prejudicava porém nesse disco o lançamento definitivo do samba-canção, porque sua empostação de voz ainda uma vez não permitia reconhecer a dose certa de balanço rítmico de samba, que Henrique Volgeler tentava introduzir como um elemento perturbador da melodia  clássica da canção.

Meiga Flor

Essa desvantagem da interpretação de Vicente Celestino foi de certa maneira afastada pela segunda gravação da música de Henrique Vogeler, a que foi feita ainda em fins de 1932 por Francisco Alves, sob o nome de Chico Viola, em disco Parlophon número 12.909, com o título mudado para "Meiga Flor", e uma segunda letra, agora do revistógrafo Freire Júnior:

Autor: Henrique Vogeler - Freire Júnior
Título: Meiga Flor
Gênero: Samba Canção
Intérprete: Francisco Alves
Gravadora: Parlophon
Número: 12.909-A
Matriz: 2215
Data Lançamento: Jan/1929

Meiga flor,
Não te lembras, talvez,
Das promessas de amor,
Que te fiz,
Já não crês...

Se
Queres me abandonar
Procurando negar
Que juraste a mim também
Minha ser, meu bem...

Meu amor
Por que negas, ó flor,
Sempre fui tão sincero,
Eu te quis, eu te quero...

Sei que sem ti morrerei.
És o meu ideal
Minha vida, afinal.

Se amas alguém, meiga flor,
Demais te convém outro amor
Eu quero partir para não mais te ver
Eu quero fugir e bem longe morrer. (bis)

Estava escrito, porém, que o lançamento definitivo do samba-canção não se daria nem com a letra original de Cândido Costa, nem com essa segunda de Freire Júnior, mas apenas em sua terceira versão: a do também revistógrafo Luís Peixoto.

Em dezembro de 1928, precisando de um número para sua revista Miss Brasil, escrita em parceria com Marques Porto, o revistógrafo Luís Peixoto recorreu a Henrique Vogeler, que não teve dúvida: sentou-se ao piano e executou com o ritmo exato a música até então mal compreendida.

Iaiá (Ai, Ioiô)

Sempre de improviso, como costumava fazer, Luís Peixoto escreveu então num papel, sobre a tampa do piano, a nova letra que, primeiro gravada com o título de "Iaiá" (Parlophon Número 12 926-A) e mais tarde com o título "Ai, Ioiô", ia tornar famosos não apenas os autores desse primeiro samba-canção, mas a própria intérprete da nova versão, a atriz Aracy Cortes:

Autor: Henrique Vogeler - Luiz Peixoto
Título: Iaiá
Gênero: Canção
Intérprete: Aracy Cortes
Gravadora: Parlophon
Número: 12.926-A
Matriz: 2366
Data Lançamento: Mar/1929

Ai, Ioiô!
Eu nasci pra sofrê
Fui oiá pra você,
Meus oinho fechou!

E quando os óio eu abri,
Quis gritá, quis fugi,
Mas você,
Eu não sei por quê,
Você me chamô!

Ai, Ioiô,
Tenha pena de mim
Meu Sinhô do Bonfim
Pode inté se zangá

Se ele um dia soubé
Que você é que é,
O Ioiô de Iaiá!

Chorei toda noite
E pensei
Nos beijos de amô
Que te dei,
Ioiô, meu benzinho,
Do meu coração
Me leva pra casa
Me deixa mais não. (bis)

Cantado em número da revista Miss Brasil, em que Aracy Cortes, então no auge da carreira e do esplendor físico, acentuava com muito dengo as derramadas insinuações amorosa da letra (a linguagem sertaneja, com seus "oinho" e seus "me deixa mais não", projetava para o público das cidades a cena romântica sobre um fundo ideal de bucolismo interiorano), o samba-canção conquistou afinal o público da pequena classe média carioca.

E o mais impressionante é que, depois de firmar-se como canção no teatro, durante dezembro de 1928 e janeiro do ano seguinte, o samba "Iaiá" teria o ritmo acelerado espontaneamente pelo povo, acabando por transformar-se numa das músicas mais cantadas do carnaval de 1929.

Esse sucesso do primeiro samba-canção seria registrado no número de março da revista Phono-Arte, de Cruz Cordeiro, que ao fazer a resenha do lançamento da gravação na versão de Luís Peixoto, com Aracy Cortes, escreveu:

"Finalmente, a primeira edição do famoso 'Iaiá'. E a Parlophon no-la oferece interpretada por Aracy Cortes, a conhecida artista brasileira, que foi principal fator para a extrema popularidade desta canção, um dos maiores sucessos musicais deste último carnaval."

Para conhecer mais sobre a vida e obra de Vicente CelestinoFrancisco Alves e Aracy Cortes, visite o blog Famosos Que Partiram.



segunda-feira, 9 de junho de 2014

Boas Festas

Boas Festas
Assis Valente
1932

É paradoxal que "Boas Festas", a única música natalina brasileira que deu certo, tenha sido composta pelo baiano Assis Valente, um dos autores mais atormentados da Música Popular Brasileira. Não por acaso, "Boas Festas" é também uma das canções mais tristes entre as que são cantadas nesta época. Não há em sua letra o lirismo ou bom-humor, e até ingenuidade das músicas norte-americanas ou europeias.

É difícil entender a razão de "Boas Festas" competir com "Noite Feliz" (Stille Nacht, Silent NightHeilige Nacht), "White Christmas", e outros clássicos do cancioneiro importado. A canção é de 1932, portanto, agora em 2014 completou 82 anos, e foi lançada, em 1933, por Carlos Galhardo, com acompanhamento da Orquestra Diabos do Céu, regida por Pixinguinha.

Enquanto "Noite Feliz" (Joseph Mohr e Franz Grüber, adaptação de Alberto Ribeiro), por exemplo, evoca o Menino Jesus, paz, sinos bimbalhantes, "Boas Festas" é uma crítica social, um desabafo, amarga, que reflete o que se passava pela cabeça de Assis Valente.

Ele foi mulato pobre, adotado por uma família de brancos do recôncavo baiano, compositor e protético. Em sua música, sinos não bimbalham, gemem, e o Bom Velhinho, só é bom para uns:

Já faz tempo que pedi
mas o meu Papai Noel não vem
com certeza já morreu
ou então felicidade
é brinquedo que não tem


Numa entrevista de 1936, Assis Valente contou como lhe veio a inspiração para "Boas festas":

"Eu morava em Niterói, e passei aquele Natal sozinho. Estava longe dos meus e de todos em uma terra estranha. Era uma criatura esquecida dos demais no mundo alegre do Natal dos outros. Havia em meu quarto isolado, uma estampa simples de uma menina esperando seu presente, com seus sapatinhos sobre a cama. Eu me senti nela. Rezei e pedi. Fiz então Boas festas. Era uma forma de dizer aos outros o que eu sentia. Foi bom, porque de minha infelicidade tirei esta marchinha que fez a felicidade de muita gente. É minha alegria de todos os natais. Esta é a  minha melhor composição!"

Mas por que Assis Valente consideraria "Boas Festas" sua melhor canção? Por ela ser tão confessional? Por virar sua alma pelo avesso? Ou mostrá-la pelo lado correto? Por retratar o homem amargurado, cuja vida tinha uma face oculta, o homossexualismo não assumido? Um compositor que quase sempre cantava a alegria, com letras bem-humoradas, e que foi um dos mais bem-sucedidos do seu tempo.

São de Assis Valente: "Brasil Pandeiro", "Boneca de Pano", "Camisa Listrada", "E o Mundo Não Se Acabou", "Fez Bobagem", "Maria Boa", "Quero Um Samba" (Com Júlio Zamorano), "Uva de Caminhão", para citar umas poucas. Sua grande intérprete foi Carmem Miranda, mas foi gravado por quase todos os astros da era do rádio.

O cronista do cotidiano, das mazelas dos amores feitos, desfeitos, complicados, nunca foi tão abertamente ele próprio quanto em "Boas Festas". Nada mais incisivo do que o Natal para mexer em feridas da alma. Talvez a outra música em que Assis Valente mais fala de si mesmo seja a engraçada "Pão Duro", uma marchinha lançada, em 1946, por Luiz Gonzaga.

Carmen Miranda e Assis Valente
Em dezembro de 1968, Caetano Veloso ousou, diante das câmeras, a lendária interpretação de "Boas Festas", com o AI-5 pairando sobre sua cabeça. Foi a derradeira apresentação do programa tropicalista "Divino Maravilhoso", na TV Record.

Caetano Veloso cantava: "Anoiteceu / o sino gemeu…" segurando um revólver que apontava para a própria cabeça. Assis Valente passou anos, metaforicamente, com um revólver apontado para a cabeça. Em maio de 1941, tentou o suicídio pulando do Corcovado mas, milagrosamente, se salvou, resgatado pelo Corpo de Bombeiros.

Em 11 de março de 1958, tomou veneno com guaraná, e teve uma morte de letra de bolero mexicano,  tombou na relva da Praia do Russel. O repórter Francisco Duarte, que anos mais tarde escreveria, com Dulcinéa Nunes Gomes, a biografia "A Jovialidade Trágica de Assis Valente", passava pelo local, e viu o corpo do compositor, arrodeado por populares. Perguntou a um policial o que havia acontecido. A resposta: "Suicídio. Um protético que tinha laboratório na Cinelândia. Matou-se por dívidas. Parece que se chamava José!"

Para conhecer mais sobre a vida e obra de Assis Valente visite o blog Famosos Que Partiram.



Boas Festas

Anoiteceu, o sino gemeu
E a gente ficou feliz a rezar
Papai Noel, vê se você tem
A felicidade pra você me dar

Eu pensei que todo mundo
Fosse filho de Papai Noel
E assim felicidade
Eu pensei que fosse uma
Brincadeira de papel

Já faz tempo que eu pedi
Mas o meu Papai Noel não vem
Com certeza já morreu
Ou então felicidade
É brinquedo que não tem


sábado, 7 de junho de 2014

Odeon

Odeon
Música de Ernesto Nazareth
Letra de Vinícius de Moraes
Ano da Música: 1910
Ano da Letra: Década 60

"Odeon" é um chorinho com música de Ernesto Nazareth composta em 1910 e letra original de Vinicius de Moraes, em outra versão escrita por Ubaldo Maurício, composto em homenagem ao Cinema Odeon, localizado na Cinelândia, no centro da cidade do Rio de Janeiro.

História

Em 1908, Ernesto Nazareth foi contratado para animar a sala de espera do Cinema Odeon, o mais luxuoso da cidade do Rio de Janeiro.

Em 1910, Ernesto Nazareth compôs e dedicou esta canção "à distinta empresa Zambelli & Cia.", proprietária do Cinema Odeon. Muitas pessoas frequentavam o Cinema Odeon só para ouvi-lo tocar, deixando inclusive de assistir aos filmes.

Durante a vida de Ernesto Nazareth, "Odeon" não foi uma peça de especial destaque, tendo sido gravada apenas em 1912, pelo próprio compositor juntamente com Pedro de Alcântara ao flautim. A canção só tornou-se seu maior sucesso após sua morte, especialmente depois que recebeu letra do poeta Vinicius de Moraes na década de 60.

Em 2000, a canção fez parte da trilha-sonora da novela "O Cravo e a Rosa" com versão de Sérgio Saraceni.

Até 2012, a canção alcançou a impressionante marca de 325 gravações comerciais, feitas em diversos países.

Nara Leão

O LP "Nara Leão" foi registrado em outubro de 1968, nos estúdios da gravadora Philips, com orquestração e arranjos de Rogério Duprat, um dos maestros da Tropicália.

Uma das músicas de destaque era uma composição instrumental de 1910 que só tinha recebido letra havia pouco tempo, ainda naquele ano. Na capa do LP estava a explicação dada por Nara Leão:

"Em 1908, Ernesto Nazareth foi contratado para animar a sala de espera do cinema Odeon, na avenida Rio Branco, 137, no Rio de Janeiro. Muita gente comprava ingresso para o filme, mas passava a tarde ouvindo o seu piano. (...)
Em 1968, a meu pedido, Vinicius de Moraes fez a letra do chorinho que Ernesto Nazareth chamou de 'Odeon'".

Essa parceria inusitada de Ernesto Nazareth com Vinicius de Moraes, nascidos com 50 anos de diferença e mais de 30 anos após a morte do próprio Ernesto Nazareth, fez surgir um dos clássicos da música popular brasileira.

"Odeon" foi incluída na série de cerca de cem "Tangos Brasileiros" feitos para piano por Ernesto Nazareth. Sua obra, entre polcas, choros, tangos e peças clássicas, é um marco na música brasileira.

Para conhecer mais sobre a vida e obra de Ernesto Nazareth e Vinicius de Moraes, visite o blog Famosos Que Partiram.



Odeon

Ai, quem me dera
O meu chorinho
Tanto tempo abandonado
E a melancolia que eu sentia
Quando ouvia
Ele fazer tanto chorar
Ai, nem me lembro
Há tanto, tanto
Todo o encanto
De um passado
Que era lindo
Era triste, era bom
Igualzinho a um chorinho
Chamado odeon

Terçando flauta e cavaquinho
Meu chorinho se desata
Tira da canção do violão
Esse bordão
Que me dá vida
Que me mata
É só carinho
O meu chorinho
Quando pega e chega
Assim devagarzinho
Meia-luz, meia-voz, meio tom
Meu chorinho chamado odeon

Ah, vem depressa
Chorinho querido, vem
Mostrar a graça
Que o choro sentido tem
Quanto tempo passou
Quanta coisa mudou
Já ninguém chora mais por ninguém

Ah, quem diria que um dia
Chorinho meu, você viria

Com a graça que o amor lhe deu
Pra dizer "não faz mal
Tanto faz, tanto fez
Eu voltei pra chorar com vocês"

Chora bastante meu chorinho
Teu chorinho de saudade
Diz ao bandolim pra não tocar
Tão lindo assim
Porque parece até maldade
Ai, meu chorinho
Eu só queria
Transformar em realidade
A poesia
Ai, que lindo, ai, que triste, ai, que bom
De um chorinho chamado odeon

Chorinho antigo, chorinho amigo
Eu até hoje ainda percebo essa ilusão
Essa saudade que vai comigo
E até parece aquela prece
Que sai só do coração
Se eu pudesse recordar
E ser criança
Se eu pudesse renovar
Minha esperança
Se eu pudesse me lembrar
Como se dança
Esse chorinho
Que hoje em dia
Ninguém sabe mais

sexta-feira, 6 de junho de 2014

Na Tonga da Mironga do Kabuletê

Na Tonga da Mironga do Kabuletê
Vinícius de Moraes e Toquinho
Começo da década de 70

Vinícius de Moraes iniciava sua parceria com Toquinho, morava em Salvador e era há pouco casado com a baiana Gessy Gesse

O Brasil estava naquela fase do "Pra Frente Brasil". De um lado, o chamado "Milagre Econômico", do outro a censura, ditadura e repressão.

Vinícius de Moraes, ateu "graças a Deus", se aproximou do candomblé e seguia uma vida sem muitas regras. Um dia, estava em casa com Toquinho, quando Gessy Gesse entra pela porta e grita: "Na Songa da Mironga do Kabuletê!", afirmando que se tratava de um xingamento que ela ouvira no Mercado Modelo.

Com ToquinhoVinícius de Moraes compõe a canção para apresentá-la no Teatro Castro Alves, para a apresentação oficial da dupla. Uma forma de protesto político, afrontar os militares sem que eles tivessem consciência. Na época o Brasil era governado por uma ditadura e essa era a oportunidade de protestar sem que os militares compreendessem.

E o poeta ainda se divertia com tudo isso: "Te garanto que na Escola Superior de Guerra não tem um milico que saiba falar nagô". Assim, mudaram "songa" por "tonga"Vinícius de Moraes mandou todo mundo à "Tonga da Mironga do Kabuletê".

Mas o que significa?

Segundo o livro "Vinicius de Moraes: O Poeta da Paixão", uma biografia (Cia das Letras, 1994), significava "O pelo do cu da mãe". Procurando em sítios digitais, encontram-se outros significados, ou mesmo que a sonoridade não tem sentido nenhum.

Para conhecer mais sobre a vida e obra de Vinícius de Moraes, visite o blog Famosos Que Partiram.



Na Tonga da Mironga do Kabuletê

Eu caio de bossa
Eu sou quem eu sou
Eu saio da fossa
Xingando em nagô

Você que ouve e não fala
Você que olha e não vê
Eu vou lhe dar uma pala
Você vai ter que aprender
A tonga da mironga do kabuletê
A tonga da mironga do kabuletê
A tonga da mironga do kabuletê

Eu caio de bossa
Eu sou quem eu sou
Eu saio da fossa
Xingando em nagô

Você que lê e não sabe
Você que reza e não crê
Você que entra e não cabe
Você vai ter que viver
Na tonga da mironga do kabuletê
Na tonga da mironga do kabuletê
Na tonga da mironga do kabuletê

Você que fuma e não traga
E que não paga pra ver
Vou lhe rogar uma praga
Eu vou é mandar você
Pra tonga da mironga do kabuletê
Pra tonga da mironga do kabuletê
Pra tonga da mironga do kabuletê