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segunda-feira, 22 de junho de 2015

Não Chore Mais

Não Chore Mais
Gilberto Gil
1979

"Não Chore Mais" é um clássico, lançado por Gilberto Gil no disco "Realce" (1979), em uma versão trilingue: a letra em português e inglês e a melodia jamaicana, mas com tudo junto e misturado no melhor estilo tropicalista.

O compositor e cantor Gilberto Gil, postou explicações sobre a música "Não Chore Mais":

"Eu pensava na transposição de uma cena jamaicana para uma cena brasileira a mais similar possível nos aspectos físico, urbano e cultural. Emblemática do desejo de autonomia e originalidade das comunidades alternativas, 'No Woman, No Cry' retratava o convívio diário de rastafaris no 'government yard' (área governamental) em Trenchtown, e a perseguição policial, provavelmente ligada à questão da droga (maconha), que eles sofriam. Esta situação eu quis transportar para o Parque do Aterro, no Rio de Janeiro, também um parque público, onde localizei policiais em vigília e hippies em rodinhas, tocando violão e puxando fumo, como eu costumava vê-los de noite na cidade. Coincidindo com o momento em que a abertura política estava começando, 'Não Chore Mais' acabou por se referir a todo um período de repressão no Brasil."
Sobre a canção  "Não Chore Mais", Gilberto Gil explica que "Minha tradução para o refrão-nome foi uma escolha arbitrária, porque eu nunca entendi direito o que os autores queriam dizer com o proverbial 'No Woman, No Cry'. Até procurei, mas não tive meios de saber. Alguns me disseram que a expressão significa 'Nenhuma Mulher, Nenhum Problema'. Eu pensei em 'Nenhuma Mulher, Nenhum Choro', um adágio local talvez. E também numa possível forma em inglês dialetado para o correto 'No, Woman, Don't Cry'.
Optei por algo próximo disso inclusive porque, assim, eu me aproximava mais do sentido dos outros versos da música, uma espécie de lamento pela perda dos amigos e pela presença perturbadora da repressão que, na versão pelo menos, adquire um ar de canção de despedida, com o homem dizendo à mulher que está indo embora, mas que isso não é o fim do mundo, e que é pra ela se lembrar do tempo dos dois juntos etc. Uma instauração de um espaço afetivo que eu até hoje não sei se o original contém."

Sobre as palavras "Amigos presos, amigos sumindo assim, pra nunca mais", Gilberto Gil comenta:

"Eu não pensava em ninguém especificamente; a tradução vinha diretamente dos versos em inglês, com o detalhe do uso do termo 'presos' - surgido naturalmente com a lembrança do modo de atuar da repressão, através das prisões, torturas e mortes de pessoas."

E a sua explicação para a frase "Melhor é deixar pra trás", ele diz:

"Há uma certa licenciosidade interpretativa aí. 'You can't forget your past' ('Você não pode esquecer o seu passado'), diz o original. Me referindo ao período que estava terminando no Brasil, eu digo: 'Vamos passar a borracha nisso tudo. O passado tem um débito conosco, mas vamos dar um crédito ao futuro'. Uma posição típica da minha ideologia interna, do meu otimismo, do meu gosto pela conciliação, do traço tolerante da minha personalidade."


Não Chore Mais 

No woman, no cry
No woman, no cry
No woman, no cry
No woman, no cry

Bem que eu me lembro
Da gente sentado ali
Na grama do aterro, sob o sol
Ob-observando hipócritas
Disfarçados, rondando ao redor

Amigos presos
Amigos sumindo assim
Pra nunca mais
Tais recordações
Retratos do mal em si
Melhor é deixar pra trás

Não, não chore mais
Não, não chore mais
Oh! Oh!
Não, não chore mais
Oh! Oh! Oh! Oh! Oh!
Não, não chore mais
Hê! Hê!

Bem que eu me lembro
Da gente sentado ali
Na grama do aterro, sob o céu
Ob-observando estrelas
Junto a fogueirinha de papel

Quentar o frio
Requentar o pão
E comer com você
Os pés, de manhã, pisar o chão
Eu sei a barra de viver
Mas, se Deus quiser!
Tudo, tudo, tudo vai dar pé
Tudo, tudo, tudo vai dar pé
Tudo, tudo, tudo vai dar pé
Tudo, tudo, tudo vai dar pé
Tudo, tudo, tudo vai dar pé
Tudo, tudo, tudo vai dar pé

No woman, no cry
No woman, no cry
No woman, no cry
Uh! Uh! Uh!

Não, não chore mais
Menina não chore assim
Não, não chore mais
Oh! Oh! Oh!
No woman, no cry
No woman, no cry
Não, não chore mais
Não chore assim
Não, não chore mais
Hê! Hê!

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Você Não Me Ensinou A Te Esquecer

Você Não Me Ensinou a Te Esquecer
Fernando Mendes, José Wilson e Lucas
1979

Caetano Veloso abre a porta e toma um susto: Ouve uma de suas canções mais íntimas, "Mãe" - que de tão íntima ele nem teve a certeza de que deveria gravar - cantada de forma sentida e respeitosa por Fernando Mendes, compositor de clássicos bregas como "Cadeira de Rodas".

O motivo do encontro, testemunhado pelo Globo, era justamente o oposto: Surpreender Fernando Mendes ao mostrar, em primeira mão, a gravação que Caetano Veloso fez de "Você Não Me Ensinou a Te Esquecer", um dos maiores sucessos de Fernando Mendes do fim dos anos 70, redescoberto como tema de amor do filme "Lisbela e o Prisioneiro", de Guel Arraes.

Fernando Mendes compôs e gravou "Você Não Me Ensinou a Te Esquecer" em 1979, na época em que seguia os passos românticos do cantor Roberto Carlos. É uma sofrida canção de amor, simples e direta como os muitos sucessos populares que o cabeludo e cacheado, até hoje fiel ao corte, compositor teve ao longo de três décadas de carreira. Uma canção que se convencionou chamar de brega.

"Brega é o nome que o invejoso dá ao vitorioso!" replica Fernando Mendes, que diz não se incomodar com a definição. Caetano Veloso, para quem superar tal preconceito com a música popular sempre foi uma bandeira, quase uma razão de ser de sua carreira, incomoda-se, sim.

"É uma boa definição essa do Fernando" provoca Caetano Veloso. Há no Brasil muitos preconceitos, por exemplo contra as canções de harmonia simples. O rock quando surge parece algo regressivo. Então não se percebe como ele trouxe sofisticação formal em termos de contraponto, de timbres, de força de atitude.

Para Caetano Veloso, o mesmo raciocínio em relação ao rock pode ser aplicado no que se chama de brega. Ou seja, há uma simplificação do pensamento sobre música no Brasil.

"Muita gente me acusa de falta de critérios quando defendo esse ou aquele tipo de música, de defender o vale-tudo. Mas o que eu busco é complexificar os critérios críticos. Era essa complexidade que eu buscava em todas as vezes que provoquei o bom gosto dominantes de Vicente Celestino ao 'Tapinha'"

Para Caetano Veloso, antes de expressar tal opinião gravando os rejeitados pelos bem-pensantes da MPB, ele a incorporou em sua própria obra. "É uma postura que já estava nas minhas composições em 1966, em 'Baby', 'Divino', 'Maravilhoso', 'Superbacana', e depois 'Tá Combinado', 'A Luz de Tieta'. Não aceito, nem nunca aceitei essa divisão que impõem à música brasileira entre a canção popular e a música de boa qualidade da MPB.

Uma Breve Análise da Letra

O eu-lírico expressa uma saudade imensa da pessoa amada. Há passagens que mostram um erro cometido pelo autor, a vontade de consertá-lo e o pedido de uma chance. No refrão, o eu-lírico demonstra desespero de encontrar a pessoa amada, o abandono por ela e falta de uma direção na vida. Em suma, há um saudade da pessoa amada, um desespero por não encontrá-la e uma dúvida do que fazer agora que o autor está sozinho, abandonado.
(Maria Eugênia)



Você Não Me Ensinou A Te Esquecer

Não vejo mais você faz tanto tempo,
que vontade que eu sinto.
De olhar em seus olhos, ganhar seus abraços,
é verdade, eu não minto.

E nesse desespero em que eu me vejo,
já cheguei a tal ponto.
De me trocar diversas vezes por você,
só pra ver se te encontro.

Você bem que podia perdoar,
e só mais uma vez me aceitar.
Prometo agora vou fazer por onde
nunca mais perdê-la 

Agora, que faço eu da vida sem você?
Você não me ensinou a te esquecer.
Você só me ensinou a te querer,
e te querendo eu vou tentando te encontrar.
Vou me perdendo,
buscando em outros braços seus abraços.
Perdido no vazio de outros passos,
do abismo em que você se retirou,
e me atirou e me deixou aqui sozinho.

Agora, que faço eu da vida sem você?
Você não me ensinou a te esquecer.
Você só me ensinou a te querer,
e te querendo eu vou tentando te encontrar.

E nesse desespero em que eu me vejo,
já cheguei a tal ponto.
De me trocar diversas vezes por você,
só pra ver se te encontro.

Você bem que podia perdoar,
e só mais uma vez me aceitar.
Prometo agora vou fazer por onde
nunca mais perdê-la.

Agora, que faço eu da vida sem você?
Você não me ensinou a te esquecer.
Você só me ensinou a te querer,
e te querendo eu vou tentando te encontrar.
Vou me perdendo,
buscando em outros braços seus abraços.
Perdido no vazio de outros passos,
do abismo em que você se retirou,
e me atirou e me deixou aqui sozinho.

Agora, que faço eu da vida sem você?
Você não me ensinou a te esquecer.
Você só me ensinou a te querer,
e te querendo eu vou tentando te encontrar.


terça-feira, 2 de setembro de 2014

Enquanto Engomo a Calça

Enquanto Engomo a Calça
Ednardo e Climério Ferreira
1979

A música "Enquanto Engomo a Calça", do cantor e compositor cearense Ednardo, em parceria com o piauiense Climério, é mais uma dessas obras que foram inspiradas em fatos banais do cotidiano dos seus autores. Sempre me perguntei de onde o cearense tirara a ideia para contar sua "história bem curtinha, fácil de cantar" e o pior, enquanto engomava as calças - engomar, no nordeste, é passar a roupa a ferro.

O próprio artista, em uma entrevista ao jornalista Francisco Pinheiro, no programa "Sarau", em homenagem aos seus quarenta anos de carreira explicou. O autor de "Pavão Misterioso" contou que na década de 70, em companhia dos seus amigos, os compositores Dominguinhos e Climério, lançaram-se a um desafio: Qual dos três faria mais músicas em um espaço de um mês.

Não sabemos quem foi o vencedor da aposta. Ednardo, talvez por elegância ou por esquecimento, afirmou que o resultado foi um improvável empate, mas lembra de que, encerrado o desafio, resolveu convidar os dois amigos para tomar uma cervejinha na praia. Antes de sair, sua companheira percebeu que a calça do cantor estava muito amassada e comentou:

"Ednardo, tua calça está muito amassada, me deixe engomá-la!"

O cearense declarou que aproveitou o verso e convidou Climério para compor uma música comentando:

"Climério, não repare não, mas enquanto ela engoma a calça vamos fazer mais uma música?"

Foi instantâneo, correram para o violão e compuseram, em poucos minutos, um dos seus grandes sucessos. Depois foram para seu programa praiano, sem calça amarrotada e com mais uma composição no seu brilhante acervo.



Enquanto Engomo a Calça

Arrepare não,
mais enquanto engomo a calça eu vou lhe contar,
uma história bem curtinha fácil de cantar.

Porque cantar parece com não morrer,
é igual a não se esquecer,
que a vida é que tem razão. (2x)

Esse voar maneiro foi ninguém que me ensinou,
não foi passarinho,
foi o olhar do meu amor.
Me arrepiou todinho
e me eletrizou assim quando olhou meu coração. (2x)

Porque cantar parece com não morrer,
é igual a não se esquecer,
que a vida é que tem razão. (2x)

Arrepare não,
mais enquanto engomo a calça eu vou lhe cantar,
uma história bem curtinha fácil de contar.

Porque cantar parece com não morrer,
é igual a não se esquecer,
que a vida é que tem razão. (2x)

Esse voar maneiro foi ninguém que me ensinou,
não foi passarinho,
foi o olhar do meu amor.
Me arrepiou todinho
e me eletrizou assim quando olhou meu coração. (2x)

Porque cantar parece com não morrer,
é igual a não se esquecer,
que a vida é que tem razão. (2x)

Ai, mas como é triste 
essa nossa vida de artista. 
Depois de perder Vilma pra São Paulo, 
perder Maria Helena pro dentista.

Porque cantar parece com não morrer,
é igual a não se esquecer,
que a vida é que tem razão. (2x)


Fonte: Dr. Zem

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Cajuína

Cajuína
Caetano Veloso
1979

Por trás da música "Cajuína" existe uma história comovedora e que serviu de inspiração para o seu autor, o tropicalista Caetano Veloso. O baiano contou, durante uma apresentação em um programa de televisão, que o argumento da letra foi inspirado em um encontro com o pai do compositor, poeta, escritor e jornalista Torquato Neto, um de seus principais parceiros na Tropicália, autor de várias músicas, dentre elas, o clássico "Pra Dizer Adeus", em parceria com  Edu Lobo.

Torquato Neto foi um dos mentores intelectuais do movimento tropicalista, tendo escrito o breviário "Tropicalismo Para Principiantes" onde defendeu a necessidade de criar um pop genuinamente brasileiro. Foi também importante letrista de canções icônicas do movimento como "Geléia Geral", musicada por Gilberto Gil.

No final da década de 60, quatro dias após o Ato Institucional Nº 5 (AI-5) ser decretado, Torquato Neto viajou para Londres, onde morou por um breve período. De volta ao brasil, no início dos anos 70, começou a se isolar, sentindo-se alienado tanto pelo Regime Militar quanto pela "Patrulha Ideológica" de esquerda. Havia rompido com os amigos Tropicalistas e do Cinema Novo, declarava se sentir mais deprimido e, por vontade própria, se internou no Sanatório do Engenho de Dentro, sendo tratado com doses fortes do calmante Mutabon D.

Em 1972, aos 28 anos, Torquato Neto trancou-se no banheiro e ligou o gás, sendo encontrado morto no dia seguinte pela empregada. Deixou um bilhete de despedida que dizia:

"Tenho saudade, como os cariocas, do dia em que sentia e achava que era dia de cego. De modo que fico sossegado por aqui mesmo, enquanto durar. Para mim, chega! Não sacudam demais o Thiago que ele pode acordar."

Thiago era o filho de Torquato Neto de três anos de idade.

Caetano Veloso, nesse período, estava afastado do amigo.

No final dos anos 70, excursionando pelo Brasil com o show "Muito", Caetano Veloso chegou à Teresina, cidade natal de Torquato Neto, e recebeu no hotel, a visita do Drº Heli da Rocha, pai do amigo falecido. Caetano Veloso contou como foi esse encontro e como surgiu a inspiração para compor a música "Cajuína":

Torquato Neto e Caetano Veloso
"Eu já o conhecia pois ele tinha vindo ao Rio de Janeiro umas duas vezes. Mas era a primeira vez que eu o via depois do suicídio de Torquato Neto.
Torquato Neto estava, de certa forma, afastado das pessoas todas. Mas eu não o via desde minha chegada a Londres: Dedé e eu morávamos na Bahia e ele, no Rio de Janeiro, com temporadas em Teresina, onde descansava das internações a que se submeteu por instabilidade mental agravada, ao que se diz, pelo álcool.
Eu não o vira em Londres: Ele estivera na Europa mas voltara ao Brasil justo antes de minha chegada a Londres. Assim, estávamos de fato bastante afastados, embora sem ressentimentos ou hostilidades. Eu queria muito bem a ele. Discordava da atitude agressiva que ele adotou contra o Cinema Novo na coluna que escrevia, mas nunca cheguei sequer a dizer-lhe isso.
No dia em que ele se matou, eu estava recebendo Chico Buarque em Salvador para fazermos aquele show que virou disco famoso. Torquato tinha se aproximado muito de Chico, logo antes do Tropicalismo, entre 1966 e 1967. A ponto de estar mais frequentemente com Chico do que comigo.
Chico e eu recebemos a notícia quando íamos sair para o Teatro Castro Alves. Ficamos abalados e falamos sobre isso. E sobre Torquato Neto ter estado longe e mal. Mas eu não chorei. Senti uma dureza de ânimo dentro de mim. Me senti um tanto amargo e triste, mas pouco sentimental.
Quando, anos depois, encontrei Drº Heli, que sempre foi uma pessoa adorável, parecidíssimo com Torquato, e a quem Torquato amava com grande ternura, essa dureza amarga se desfez. E eu chorei durante horas, sem parar. Drº Heli me consolava carinhosamente. Levou-me a sua casa. Dona Salomé, a mãe de Torquato, estava hospitalizada. Então ficamos só ele e eu na casa. Ele não dizia nada. Tirou uma Rosa-Menina do jardim e me deu. Me mostrou as muitas fotografias de Torquato distribuídas pelas paredes da casa. Serviu cajuína para nós dois. E bebemos lentamente.
Durante todo o tempo eu chorava. Diferentemente do dia da morte de Torquato, eu não estava triste nem amargo. Era um sentimento terno e bom, amoroso, dirigido a Drº Heli e a Torquato, à vida. Mas era intenso demais e eu chorei.
No dia seguinte, já na próxima cidade da excursão, escrevi 'Cajuína'."

Para conhecer mais sobre a vida e obra de Torquato Neto, visite o blog Famosos Que Partiram.



Cajuína

Existirmos: a que será que se destina?
Pois quando tu me deste a rosa pequenina.
Vi que és um homem lindo e que se acaso a sina,
Do menino infeliz não se nos ilumina.
Tampouco turva-se a lágrima nordestina,
Apenas a matéria vida era tão fina.
E éramos olharmo-nos intacta retina,
A cajuína cristalina em Teresina.


sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Faroeste Caboclo

Faroeste Caboclo
Renato Russo
1979

"Faroeste Caboclo" é uma canção do grupo brasileiro Legião Urbana, composta pelo compositor e líder da banda, Renato Russo. Composta em 1979, ela só foi lançada oficialmente em 1987, no álbum "Que País é Este 1978/1987" e já era velha conhecida dos amigos de Renato Russo. A música foi escrita quando o jovem Renato Russo se apresentava por Brasília como "Trovador Solitário": só ele, um banquinho e um violão.

O álbum "Que País é Este 1978/1987" reunia sete canções antigas, da época de "Trovador Solitário" e de "Aborto Elétrico", e apenas duas inéditas, "Angra dos Reis" e "Mais do Mesmo".

Ganhou bastante atenção quando do lançamento do álbum e, por isso, mereceu ser lançada como single promocional, o que só aconteceu em 1988 devido à necessidade de editar a canção para a aprovação pela censura federal.

A canção foi censurada para radiofusão por conter "referências a drogas e linguagem grosseira e vulgar", conta o jornalista Carlos Marcelo na biografia "Renato Russo - O Filho da Revolução", cuja nova edição sairá com ensaio sobre "Faroeste Caboclo".

As rádios começaram, então, a tocar uma versão com cortes em partes como "comia todas as menininhas da cidade", "que fica atrás da mesa com o cu na mão" e "olha pra cá, filha da puta sem vergonha".

Renato Russo afirmou na época que a estrutura de "Faroeste Caboclo" foi inspirada em "Hurricane", sucesso épico de Bob Dylan sobre um boxeador condenado à prisão, e em "Domingo no Parque", de Gilberto Gil.

Em 2013, a canção ganhou uma adaptação cinematográfica, dirigida por René Sampaio, com roteiro de Victor Atherino e Marcos Bernstein a partir da letra original, e tendo nos papéis principais os atores Fabrício Boliveira (João de Santo Cristo), Ísis Valverde (Maria Lúcia), Felipe Abib (Jeremias) e César Troncoso (Pablo).


Histórico e Estrutura

"Faroeste Caboclo" narra a história de João de Santo Cristo, um traficante nascido no Nordeste do Brasil (supostamente no interior da Bahia) que se muda para Brasília e se redime ao apaixonar-se por uma mulher chamada Maria Lúcia, sendo posteriormente assassinado por Jeremias, um traficante rival.

A canção tem 168 versos. Segundo o jornalista e historiador Marcelo Fróes, no manuscrito original com a letra de "Faroeste Caboclo" havia uma anotação de Renato Russo dizendo que imaginava a música como um baião cantado por Luiz Gonzaga. Apesar da duração incomum para uma canção popular, 9'03", há duas outras composições de Renato Russo ainda mais extensas: "Metal Contra as Nuvens" (11'22") e "Clarisse" (10'32").


Lançamento

A canção foi censurada, junto com "Conexão Amazônica", do mesmo disco, mas por razão diferente: a presença de palavrões, enquanto "Conexão Amazônica" foi censurada por causa da temática, sobre o tráfico de drogas. Porém, em "Faroeste Caboclo", foi feita uma edição onde se colocou um sinal sonoro sobre os palavrões. Com isso, a música foi liberada para radiodifusão.


Frases Sobre a Letra

"Eu acho legal que as pessoas gostem da história. Um motorista de táxi, outro dia, me disse que tinha um amigo que comprou a fita porque era, exatamente, a história do irmão dele. O cara tinha saído de Mato Grosso e ido a Brasília, e morreu num tiroteio no Nordeste. E a canção é totalmente fictícia."
(Renato Russo, 1988)

"Acho que Faroeste Caboclo é uma mistura de 'Domingo no Parque' de Gilberto Gil, e coisas do Raul Seixas com a tradição oral do povo brasileiro. Brasileiro adora contar história. E eu também queria imitar o Bob Dylan. Eu queria fazer a minha 'Hurricane'."
(Renato Russo, 1990)

"Lembro quando ele me mostrou a música, em umas férias na Ilha do Governador, RJ. Ele tinha um caderno cheio de letras ainda não gravadas, que depois foram surgir com a Legião."
(Helena Lemos, irmã mais nova de Fê e Flávio Lemos, do Capital Inicial)

Philippe Seabra, vocalista da banda Plebe Rude, também presenciou os primeiros dias daquela que se tornaria uma das músicas mais famosas do rock brasileiro.

"Renato tocou 'Faroeste Caboclo' para mim debaixo de um bloco em Brasília", lembra. "A música era muito forte."

"A música é a história do Brasil, é um hollywoodão, cheio de clichês do país. Quando ouvi, pensei: 'É um filme'. Tanto é que acabou virando isso mesmo", disse Marcelo Bonfá, baterista da banda.



Faroeste Caboclo

Não tinha medo o tal João de Santo Cristo
Era o que todos diziam quando ele se perdeu
Deixou pra trás todo o marasmo da fazenda
Só pra sentir no seu sangue o ódio que Jesus lhe deu

Quando criança só pensava em ser bandido
Ainda mais quando com um tiro de soldado o pai morreu
Era o terror da sertania onde morava
E na escola até o professor com ele aprendeu

Ia pra igreja só pra roubar o dinheiro
Que as velhinhas colocavam na caixinha do altar
Sentia mesmo que era mesmo diferente
Sentia que aquilo ali não era o seu lugar

Ele queria sair para ver o mar
E as coisas que ele via na televisão
Juntou dinheiro para poder viajar
De escolha própria, escolheu a solidão

Comia todas as menininhas da cidade
De tanto brincar de médico, aos doze era professor.
Aos quinze, foi mandado pro o reformatório
Onde aumentou seu ódio diante de tanto terror.

Não entendia como a vida funcionava
Discriminação por causa da sua classe e sua cor
Ficou cansado de tentar achar resposta
E comprou uma passagem, foi direto a Salvador.

E lá chegando foi tomar um cafezinho
E encontrou um boiadeiro com quem foi falar
E o boiadeiro tinha uma passagem e ia perder a viagem
Mas João foi lhe salvar

Dizia ele: "Estou indo pra Brasília
Neste país lugar melhor não há
Tô precisando visitar a minha filha
Eu fico aqui e você vai no meu lugar"

E João aceitou sua proposta
E num ônibus entrou no Planalto Central
Ele ficou bestificado com a cidade
Saindo da rodoviária, viu as luzes de Natal

"Meu Deus, mas que cidade linda,
No Ano-Novo eu começo a trabalhar"
Cortar madeira, aprendiz de carpinteiro
Ganhava cem mil por mês em Taguatinga

Na sexta-feira ia pra zona da cidade
Gastar todo o seu dinheiro de rapaz trabalhador
E conhecia muita gente interessante
Até um neto bastardo do seu bisavô

Um peruano que vivia na Bolívia
E muitas coisas trazia de lá
Seu nome era Pablo e ele dizia
Que um negócio ele ia começar

E o Santo Cristo até a morte trabalhava
Mas o dinheiro não dava pra ele se alimentar
E ouvia às sete horas o noticiário
Que sempre dizia que o seu ministro ia ajudar

Mas ele não queria mais conversa
E decidiu que, como Pablo, ele ia se virar
Elaborou mais uma vez seu plano santo
E sem ser crucificado, a plantação foi começar.

Logo logo os maluco da cidade souberam da novidade:
"Tem bagulho bom ai!"
E João de Santo Cristo ficou rico
E acabou com todos os traficantes dali.

Fez amigos, frequentava a Asa Norte
E ia pra festa de rock, pra se libertar
Mas de repente
Sob uma má influência dos boyzinho da cidade
Começou a roubar.

Já no primeiro roubo ele dançou
E pro inferno ele foi pela primeira vez
Violência e estupro do seu corpo
"Vocês vão ver, eu vou pegar vocês"

Agora o Santo Cristo era bandido
Destemido e temido no Distrito Federal
Não tinha nenhum medo de polícia
Capitão ou traficante, playboy ou general

Foi quando conheceu uma menina
E de todos os seus pecados ele se arrependeu
Maria Lúcia era uma menina linda
E o coração dele pra ela o Santo Cristo prometeu

Ele dizia que queria se casar
E carpinteiro ele voltou a ser
"Maria Lúcia pra sempre vou te amar
E um filho com você eu quero ter"

O tempo passa e um dia vem na porta
Um senhor de alta classe com dinheiro na mão
E ele faz uma proposta indecorosa
E diz que espera uma resposta, uma resposta do João

"Não boto bomba em banca de jornal
Nem em colégio de criança isso eu não faço não
E não protejo general de dez estrelas
Que fica atrás da mesa com o cu na mão

E é melhor senhor sair da minha casa
Nunca brinque com um Peixes de ascendente Escorpião"
Mas antes de sair, com ódio no olhar, o velho disse:
"Você perdeu sua vida, meu irmão"

"Você perdeu a sua vida meu irmão
Você perdeu a sua vida meu irmão
Essas palavras vão entrar no coração
Eu vou sofrer as consequências como um cão"

Não é que o Santo Cristo estava certo
Seu futuro era incerto e ele não foi trabalhar
Se embebedou e no meio da bebedeira
Descobriu que tinha outro trabalhando em seu lugar

Falou com Pablo que queria um parceiro
E também tinha dinheiro e queria se armar
Pablo trazia o contrabando da Bolívia
E Santo Cristo revendia em Planaltina

Mas acontece que um tal de Jeremias,
Traficante de renome, apareceu por lá
Ficou sabendo dos planos de Santo Cristo
E decidiu que, com João ele ia acabar

Mas Pablo trouxe uma Winchester-22
E Santo Cristo já sabia atirar
E decidiu usar a arma só depois
Que Jeremias começasse a brigar

Jeremias, maconheiro sem-vergonha
Organizou a Rockonha e fez todo mundo dançar
Desvirginava mocinhas inocentes
Se dizia que era crente mas não sabia rezar

E Santo Cristo há muito não ia pra casa
E a saudade começou a apertar
"Eu vou me embora, eu vou ver Maria Lúcia
Já tá em tempo de a gente se casar"

Chegando em casa então ele chorou
E pro inferno ele foi pela segunda vez
Com Maria Lúcia Jeremias se casou
E um filho nela ele fez

Santo Cristo era só ódio por dentro
E então o Jeremias pra um duelo ele chamou
Amanhã às duas horas na Ceilândia
Em frente ao lote 14, é pra lá que eu vou

E você pode escolher as suas armas
Que eu acabo mesmo com você, seu porco traidor
E mato também Maria Lúcia
Aquela menina falsa pra quem jurei o meu amor

E o Santo Cristo não sabia o que fazer
Quando viu o repórter da televisão
Que deu notícia do duelo na TV
Dizendo a hora e o local e a razão

No sábado então, às duas horas,
Todo o povo sem demora foi lá só para assistir
Um homem que atirava pelas costas
E acertou o Santo Cristo, começou a sorrir

Sentindo o sangue na garganta,
João olhou pras bandeirinhas e pro povo a aplaudir
E olhou pro sorveteiro e pras câmeras e
A gente da TV que filmava tudo ali

E se lembrou de quando era uma criança
E de tudo o que vivera até ali
E decidiu entrar de vez naquela dança
"Se a via-crucis virou circo, estou aqui"

E nisso o sol cegou seus olhos
E então Maria Lúcia ele reconheceu
Ela trazia a Winchester-22
A arma que seu primo Pablo lhe deu

"Jeremias, eu sou homem. coisa que você não é
E não atiro pelas costas não
Olha pra cá filha-da-puta, sem-vergonha
Dá uma olhada no meu sangue e vem sentir o teu perdão"

E Santo Cristo com a Winchester-22
Deu cinco tiros no bandido traidor
Maria Lúcia se arrependeu depois
E morreu junto com João, seu protetor

E o povo declarava que João de Santo Cristo
Era santo porque sabia morrer
E a alta burguesia da cidade
Não acreditou na história que eles viram na TV

E João não conseguiu o que queria
Quando veio pra Brasília, com o diabo ter
Ele queria era falar pro presidente
Pra ajudar toda essa gente que só faz...

Sofrer...


sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

O Bêbado e a Equilibrista

O Bêbabo e a Equilibrista
João Bosco e Aldir Blanc
1979

"O Bêbado e a Equilibrista" é uma das mais famosas músicas que berraram nos ouvidos da covarde ditadura militar que assolou e assombrou o Brasil de 1964 a 1985. A música foi composta por Aldir Blanc e João Bosco e lançada no LP "Linha de Passe", em 1979 e gravada por Elis Regina, voz que deu forma à música e ficou conhecidíssima.

Como a doce adjetivação da esperança - equilibrista - existem muitas possibilidades para as geniais - e geniosas - metáforas de Aldir Blanc. Como a de que as "estrelas" seriam generais e "céu", a prisão. Mais abaixo consulte a análise mais profunda com os devidos comentários políticos da letra.

Betinho, sociólogo, ativista pelos direitos humanos, perseguido e exilado na época do regime militar, era irmão do, também genial, Henrique de Sousa, o cartunista Henfil, este que foi apresentado ao compositor Aldir Blanc por sua amiga, a cantora Elis Regina, no verão de 1975, iniciando assim uma boa amizade.

Henfil costumava encher os ouvidos do amigo de suas memórias do irmão Betinho, exilado desde 1971.

Sensibilizado com o falecimento de Charlie Chaplin, João Bosco compôs uma linda melodia em sua homenagem e chamou Aldir Blanc para mostrá-la. Aldir Blanc letrou a música e fez uma singela homenagem ao rimar "Brasil" com "irmão do Henfil", esta rima, que por sua vez teve papel de emoção, mobilização, transformação e incentivo a uma nação reprimida. Aldir Blanc afirmou que se dissesse "Betinho", ninguém reconheceria, a referência ao irmão Henfil era mais forte, pois ele já tinha fama na época, enquanto a imagem pública de Betinho veio a se formar com força já pelos anos noventa, principalmente após a criação da "Ação da Cidadania".

Herbert de Souza, o Betinho, ouviu pela primeira vez a canção, na doce voz de Elis Regina, exilado no México. Seu irmão o telefonou e pôs, sem nada avisar, para que ouvisse. Ao enviar a fita cassete, Henfil escreveu um recado:

"Mano velho, prepare-se! Agora nós temos um hino e quem tem um hino faz uma revolução!"

Dito e feito! A campanha pela anistia irrestrita foi a primeira movimentação nacional que obteve sucesso desde o início da sangrenta ditadura militar no Brasil. Vários manifestos ocorreram no mundo inteiro, inclusive a Conferência Internacional da Mulher, no México, que fez de 1975 o Ano Internacional pela Anistia.

Em 1979, Betinho desembarcou no Aeroporto de Congonhas e se deparou com uma manifestação: Cerca de duzentas pessoas cantavam "O Bêbado e a Equilibrista".



O Bêbado e a Equilibrista

Caía a tarde feito um viaduto
e um bêbado trajando luto
me lembrou Carlitos

A lua,
tal qual a dona do bordel.
Pedia a cada estrela fria,
um brilho de aluguel

E nuvens,
lá no mata-borrão do céu.
Chupavam manchas torturadas,
que sufoco

Louco!
O bêbado com chapéu-côco,
fazia irreverências mil
prá noite do Brasil,
meu Brasil.

Que sonha,
com a volta do irmão do Henfil
Com tanta gente que partiu,
num rabo de foguete

Chora,
a nossa Pátria mãe gentil.
Choram Marias e Clarisses
no solo do Brasil.

Mas sei,
que uma dor assim pungente
não há de ser inutilmente
a esperança.
Dança
na corda bamba de sombrinha,
e em cada passo dessa linha,
pode se machucar.

Azar!
A esperança equilibrista,
sabe que o show de todo artista,
tem que continuar.


Uma Análise Mais Profunda da Letra

O Bêbado (1) e a Equilibrista (2)

Caía a tarde feito um viaduto (3)
E um bêbado trajando luto (4)
me lembrou Carlitos

A lua (5)
tal qual a dona do bordel (6)
Pedia a cada estrela fria (7)
um brilho de aluguel (8)

E nuvens (9)
lá no mata-borrão (10) do céu (11)
Chupavam manchas (12) torturadas (13),
 que sufoco

Louco!
O bêbado com chapéu côco
 fazia irreverências mil (14)
ora noite do Brasil (15),
meu Brasil.

Que sonha,
com a volta do irmão do Henfil (16)
Com tanta gente que partiu (17),
num rabo-de-foguete.

Chora
a nossa pátria mãe gentil
Choram Marias e Clarisses (18)
no solo do Brasil.

Mas sei,
que uma dor assim pungente
não há de ser inutilmente
a esperança
Dança
na corda bamba de sombrinha
e em cada passo dessa linha,
pode se machucar

Azar!
A esperança equilibrista
sabe que o show de todo artista
Tem que continuar


Comentários

  1. O bêbado representa os artistas, poetas, músicos e "loucos" em geral, que embriagados de liberdade ousavam levantar suas vozes contra a ditadura.
  2. A equilibrista era a esperança de democracia, um projeto de abertura política gradual, que a cada "eleição", a cada evento que incomodava os militares (passeatas, etc), tinha sua existência ameaçada.
  3. Um viaduto, obra do governo, caiu, desabou sobre carros e ônibus cheios de pessoas, matando muita gente. Na época, nada pôde ser noticiado nem as pessoas foram devidamente ressarcidas ou indenizadas. Cidade de Belo Horizonte, viaduto da Gameleira, década de 70.
  4. Referência aos militantes de esquerda que foram "sumidos" ou declaradamente assassinados sob tortura.
  5. A lua representa os políticos civis que se colocaram a favor do regime, a fim de obter ganhos pessoais. Eles "acreditavam" tanto na propaganda oficial que se dizia que se um general declarasse que a lua era preta eles passariam a defender tal tese como verdade absoluta. Em determinada época foram até chamados de luas-pretas.
  6. A Câmara de Deputados e o Senado foram algumas vezes comparados a bordéis devido aos negócios imorais que lá se faziam. É claro que os cidadãos indignados não podiam dizer claramente que pensavam isto, ou seriam no mínimo processados por calúnia, injúria, difamação e etc.
  7. As estrelas são os generais, donos do poder. Alguns deles nunca apareceram como governantes, preferindo manipular nos bastidores. Se contentavam com uns poucos privilégios astronômicos e umas ninharias de cargos de direção em estatais ou o poder de nomear umas poucas dezenas de parentes e correligionários em empregos públicos.
  8. O brilho de aluguel era, como mencionado acima, os ganhos pessoais e até eleitorais obtidos pelos civis que aceitavam ser marionetes. Alguns destes civis cresceram tanto que ultrapassaram em poder os seus "criadores" fardados.
  9. Os torturadores são aqui comparados a nuvens, pois eram intocáveis e inalcançáveis.
  10. O mata-borrão é um instrumento antiquado destinado a eliminar erros, borrões na escrita. O DOI-CODI, nossa temível polícia política da época era o mata-borrão do regime (instrumento antiquado destinado a eliminar erros).
  11. As prisões eram inalcançáveis ao cidadão comum, inacessíveis, por isso a comparação com o céu.
  12. Os rebeldes são comparados a manchas, ou seja um erro na escrita, uma coisa fora da ordem, uma indisciplina.
  13. Referência à tortura aplicada aos militantes de esquerda, que ocorria às escondidas. O regime jamais admitiu que torturava pessoas, porém nunca houve punições aos casos que conseguiam alguma divulgação, apesar da censura à imprensa.
  14. Os artistas nunca se calaram. Esta música, ele própria é uma das irreverências.
  15. Um tema recorrente nas músicas da época. A volta das liberdades políticas é comparada ao amanhecer, bem como a ditadura é comparada à noite.
  16. O Henfil (Henrique Filho) era um afiadíssimo cartunista político muito visado pelo regime, bem como seu irmão o Betinho, que no governo Fernando Henrique organizou o programa de combate à fome. Os dois eram hemofílicos e morreram de Aids.
  17. Referência aos exilados políticos.
  18. Maria é a esposa do operário Manuel Fiel Filho morto sob tortura nos porões do DOI-CODI / SP em janeiro de 1976 e Clarice é a esposa do jornalista Wladimir Herzog, também morto sob tortura, no DOI-CODI / SP em outubro de 1975.

Fonte: História da Música e O Ponto