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terça-feira, 2 de junho de 2015

Meu Mundo e Nada Mais

Meu Mundo e Nada Mais
Guilherme Arantes
1976

A importância que as trilhas sonoras de telenovelas desempenham para a história de nossa canção é grande. Além de tornar a trama, ora mais leve, ora mais pesada, dependendo dos apelos das cenas, as canções marcam as personagens e estimulam emoções no ouvinte-telespectador. Elas, como que, complementam a personagem. Sem esquecer, claro, o alcance de público.

Como somos seres carentes, circular e infinitamente, do canto do outro, ao assistirmos alguém, a personagem de ficção, vivenciando algo que encontra eco nas nossas necessidades íntimas e particulares, e aquele momento é emoldurado por uma canção, esta canção entra, pelas portas da empatia e da afetividade, na nossa constituição de sujeitos.

É assim que muitas vezes as canções ultrapassam os limites da televisão e figuram nas vidas reais embalando momentos particulares de quem assiste à novela. Seja como for, ao colarmos uma canção a um tempo e a uma imagem, no caso uma cena de novela, algo que atravessa nosso cotidiano por um bom par de tempo, facilitamos que ela, a canção, dure mais: Ressoe em nossa caixa acústica interior. Isso, não só ajuda a difundir a canção como também a torná-la perpétua em nós: ouvintes.

"Meu Mundo e Nada Mais", de Guilherme Arantes, do ano de 1976, é um destes casos. A canção apareceu na novela "Anjo Mau" (1976) e nunca mais parou de tocar: Seja pelo poder de fixação da imagem televisiva, seja pela própria canção em si, sua mensagem, letra e melodia.


Competente pianista, Guilherme Arantes criou um acompanhamento melódico e harmônico que investe nas potências daquilo que a letra diz. A bela introdução indicia a voz de um sujeito que, chafurdando em restos de vida, canta a paz perdida.

Ao sustentar as vogais, no final de alguns versos, o sujeito parece querer manter, ou rever, a vida que perdeu. Fera ferida, o que lhe importa agora é juntar os caquinhos de um velho mundo a fim de projetar um novo.

O sujeito percebe, com dor, que não há "verdades verdadeiras". Tudo muda o tempo todo e a vida, neste momento, exige mudanças. A certeza dá paz. Mas, o mundo é feito de incertezas, ou melhor, de ficções: verdades construídas, montadas e frágeis. O sujeito percebe isso e tenta (de)escrever o seu livro do desassossego.

Desencantado da vida (ele que tinha tudo e cantava), o sujeito está mudo: não há mais porque cantar, se as motivações cessaram. A reflexão interna do sujeito transparece como um desabafo íntimo: A vontade de esquecer a causa do desencanto.

Mas, como ver luz no fim do túnel se estamos na curva, na crise, na fronteira entre o sim e o não? Como voltar a sorrir sem amargura depois da ferida? Como superar a quebra permanente das estabilidades? Eis as questões!


Meu Mundo e Nada Mais 

Quando eu fui ferido, vi tudo mudar,
das verdades que eu sabia.
Só sobraram restos, que eu não esqueci,
toda aquela paz que eu tinha.

Eu que tinha tudo, hoje estou mudo,
estou mudado.
À meia-noite, à meia-luz pensando:
Daria tudo por um modo de esquecer.

Eu queria tanto estar no escuro do meu quarto,
à meia-noite, à meia-luz sonhando:
Daria tudo por meu mundo e nada mais.

Não estou bem certo se ainda vou sorrir,
sem um travo de amargura.
Como ser mais livre, como ser capaz,
de enxergar um novo dia.

Eu que tinha tudo, hoje estou mudo,
estou mudado.
À meia-noite, à meia-luz pensando:
Daria tudo por um modo de esquecer.

Eu queria tanto estar no escuro do meu quarto,
à meia-noite, à meia-luz sonhando:
Daria tudo por meu mundo e nada mais.


quarta-feira, 27 de maio de 2015

Nuvem Passageira

Nuvem Passageira
Hermes Aquino
1976

Sucesso da novela "O Casarão" (1976), que tinha no elenco grandes nomes da dramaturgia brasileira, como Paulo Gracindo, Yara Côrtes e Mário Lago. A canção logo caiu no gosto do público pela beleza da música e letra coberta de figuras de linguagens românticas.

Do disco "Desencontro de Primavera" (1977) e com melodia para lá de intencional, cheia de elementos sonoros que ratificam a mensagem leve da letra, "Nuvem Passageira" é um belíssimo poema tematizando o efêmero da vida, defendendo a tese de que devemos viver intensamente cada oportunidade da nossa existência terrena.

Eu sou nuvem passageira,
que com o vento se vai.
Eu sou como um cristal bonito,
que se quebra quando cai.

Tudo na vida é transitório, nada do que somos ou fazemos é permanente, eterno. O próprio passar do tempo se encarrega de transformar. As nuvens são assim, elas passeiam pelo céu e nunca estão paradas e mudam de forma a cada momento que as vemos. O vento dá movimento e, quando você menos percebe, elas já desapareceram de sua vista. Assim somos nós. Por analogia podemos dizer que o tempo é o vento que provoca as alterações de nossas vidas. A relação pode ser feita também com um cristal em que se dedica cuidados especiais, como se fosse uma preciosidade que não se deprecia. Todo mundo sabe que um cristal quando se quebra não tem remendo. Jamais será o mesmo que foi antes da queda que o fez se quebrar.

Não adianta escrever meu nome numa pedra,
pois esta pedra em pó vai se transformar.

Nesses versos o autor realça a certeza de que nada é para sempre. Por mais que se imagine a solidez de algo, tornando-o permanente, comparando-o com a pedra, por exemplo, a realidade tem demonstrado que no decorrer do tempo o que era pedra pode virar pó. O nome escrito na pedra desaparecerá e ficará apenas a lembrança do que fez, na intenção de deixar um registro que nunca se apagaria.

Você não vê que a vida corre contra o tempo,
sou um castelo de areia na beira do mar.

O autor começa a valorizar a consciência de que a vida deve ser vivida intensamente a cada instante, porque ela passa rapidamente ao correr do tempo. Novamente usa a imagem de um castelo de areia construído à beira mar para denotar a fragilidade do nosso existir. Basta vir uma onda do mar para fazer ruir o castelo de areia. Então, que esse castelo seja útil enquanto estiver de pé, sem o risco de ser alcançado pelas águas da praia.


A lua cheia convida para um longo beijo,
mas o relógio te cobra o dia de amanhã.

Muitas vezes somos seduzidos por desejos circunstanciais e nos entregamos a eles como se fossem infinitos. Esquecemos que o amanhã já nos cobrará outras atitudes, outras posturas, outras formas de viver a vida. Daí a necessidade de aproveitar ao máximo cada momento da vida.

Estou sozinho, perdido e louco no meu leito,
e a namorada analisada por sobre o divã.

A ideia do sujeito sozinho e cheio de impulsos no leito, enquanto a namorada está analisada no divã, pontua a quebra radical diante das cobranças do tempo. Dizendo o que é, desenhando uma imagem para si, o sujeito investe naquilo que mina, que não tem forma fixa, a fim de convidar o ouvinte à vida: "Você não vê que a vida corre contra o tempo", diz.

Por isso agora o que eu quero é dançar na chuva,
não quero nem saber de me fazer, ou me matar.

Fugir das preocupações. "Dançar na chuva", quer dizer fazer o que lhe der prazer, atirar-se na vida. Não se angustiar com a possibilidade da morte ou com as dificuldades que possa enfrentar no dia a dia.

Eu vou deixar um dia a vida e a minha energia,
sou um castelo de areia na beira do mar.

A decisão é fazer valer toda a sua capacidade de viver enquanto puder, para que não se arrependa quando "o castelo de areia" estiver sendo desmanchado pelas águas do mar. 

O sujeito se eterniza na vivência plena de cada ato, na experimentação cotidiana: aproveitar a lua cheia, por exemplo. Qualquer possível certeza de solidez é apresentada pela fragilidade que ela possui. É o caso da pedra que "em pó vai se transformar".

"A curta expectativa de vida é o trunfo dos impulsos, dando-lhes uma vantagem sobre os desejos", escreveu Zygmunt Bauman no livro "Amor Líquido". O sujeito de "Nuvem Passageira" quer guardar o mundo pelo transitório, na fragilidade dos laços, naquilo cujas consequências não ultrapassam a superfície da pele.


Nuvem Passageira

Eu sou nuvem passageira,
que com o vento se vai.
Eu sou como um cristal bonito,
que se quebra quando cai.

Não adianta escrever meu nome numa pedra,
pois esta pedra em pó vai se transformar.
Você não vê que a vida corre contra o tempo,
sou um castelo de areia na beira do mar.


Eu sou nuvem passageira,
que com o vento se vai.
Eu sou como um cristal bonito,
que se quebra quando cai.

A lua cheia convida para um longo beijo,
mas o relógio te cobra o dia de amanhã.
Estou sozinho, perdido e louco no meu leito,
e a namorada analisada por sobre o divã.


Eu sou nuvem passageira,
que com o vento se vai.
Eu sou como um cristal bonito,
que se quebra quando cai.

Por isso agora o que eu quero é dançar na chuva,
não quero nem saber de me fazer, vou me matar.
Eu vou deixar um dia a vida e a minha energia,
sou um castelo de areia na beira do mar.


Eu sou nuvem passageira,
que com o vento se vai.
Eu sou como um cristal bonito,
que se quebra quando cai.


domingo, 15 de março de 2015

Preciso Me Encontrar

Preciso Me Encontrar
Candeia
1976

"Preciso Me Encontrar" é uma música composta por Candeia a pedido do jornalista e escritor Juarez Barroso, falecido em 1976.

A canção ficou conhecida na voz de Cartola, em 1976, e depois gravada com grande sucesso pela cantora Marisa Monte, filha de Carlos Monte, ex-diretor da Portela, em seu disco de estréia "MM", em 1989. A música também fez parte da trilha sonora do filme "Cidade de Deus" (2002), de Fernando Meirelles e Katia Lund, na versão de Cartola.

Numa cadeira de rodas, Candeia temia que sentissem pena dele. Até que um dia os amigos conseguiram fazê-lo se reencontrar com o público. Foi numa noite, no Teatro Opinião. A casa cheia de amigos e convidados, ele entrou em sua cadeira de rodas e foi cantando um samba novo, "De Qualquer Maneira", ao som de um violão.

Poucos conseguiram conter as lágrimas. A peça "É Sangue na Veia, é Candeia", de Eduardo Rieche, vencedora do concurso nacional de dramaturgia promovido pelo Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), em 2007, mostrou a cena. Candeia lutou contra a melancolia até o fim da vida, mas ela não o abandonou. Nos versos de "Preciso Me Encontrar", a sombra da tragédia pessoal.

No álbum "Vida Que Segue", Zeca Pagodinho reviveu Candeia ao interpretar "Preciso Me Encontrar". Neste álbum, Zeca Pagodinho canta a música de Candeia acompanhado de Marisa MonteHamilton de Holanda no bandolim e Yamandú Costa no violão.

O sambista Candeia, Antonio Candeia Filho, nasceu no Rio de Janeiro, escreveu seu primeiro samba aos 17 anos e iniciou sua carreira artística na Portela. Para conhecer mais sobre o artista, visite o blog Famosos Que Partiram.



Preciso Me Encontrar

Deixe-me ir preciso andar
Vou por aí a procurar
Sorrir pra não chorar
Deixe-me ir preciso andar
Vou por aí a procurar
Sorrir pra não chorar

Quero assistir ao sol nascer
Ver as águas dos rios correr
Ouvir os pássaros cantar
Eu quero nascer, quero viver

Deixe-me ir preciso andar
Vou por aí a procurar
Sorrir pra não chorar

Se alguém por mim perguntar
Diga que eu só vou voltar
Depois que me encontrar

Quero assistir ao sol nascer
Ver as águas dos rios correr
Ouvir os pássaros cantar
Eu quero nascer, quero viver

Deixe-me ir preciso andar
Vou por aí a procurar
Sorrir pra não chorar
Deixe-me ir preciso andar
Vou por aí a procurar
Sorrir pra não chorar
Deixe-me ir preciso andar
Vou por aí a procurar
Sorrir pra não chorar


quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

As Rosas Não Falam

As Rosas Não Falam
Cartola
1973

A composição desse belo samba-canção é uma obra de Agenor de Oliveira, o Cartola.

"As Rosas Não Falam" tem uma bela história. Um dia Dona Zica, esposa de Cartola, ganhou umas mudas de rosas. Resolveu plantá-las no jardim e alguns dias depois, ao abrir a porta pela manhã, ficou extasiada com a quantidade de rosas desabrochadas. Chamou então Cartola e perguntou:

- Cartola, vem ver! Por que é que nasceu tanta rosa assim?

O mestre Cartola então respondeu:

- Não sei, Zica. As rosas não falam...

A frase ficou remoendo na cabeça do poeta. Tomou então do violão e a música brotou quase que imediatamente. Faltavam três dias para ele completar 65 anos. Cartola disse então que "As Rosas Não Falam" foi o seu presente de aniversário.

Ainda sobre a canção, Paulinho da Viola contou que quando trabalhava na TV Cultura de São Paulo, no ano de 1973, apresentando um programa que buscava mostrar pessoas ligadas à música, principalmente sambistas ligados às escolas de samba, e foi visitado por Cartola. No meio do programa Cartola interrompeu Paulinho da Viola e pediu para apresentar uma de suas composições. Paulinho da Viola ficou sem ação porém o diretor do programa autorizou a apresentação. Paulinho da Viola então pegou seu violão e tocou pela primeira vez em público "As Rosas Não Falam". Paulinho contou ainda que durante anos não conseguia cantar a música.

"As Rosas Não Falam" esteve na trilha sonora das novelas "Duas Vidas" (1976/1977) interpretada por Beth Carvalho, "Mulheres Apaixonadas" (2003), executada por Léo Gandelman, "Ninho da Serpente" (1982), na voz de Emílio Santiago.


As Rosas Não Falam

Bate outra vez
com esperanças o meu coração
Pois já vai terminando o verão
enfim

Volto ao jardim
com a certeza de que devo chorar
Pois bem sei que não queres voltar
para mim

Queixo-me às rosas, mas que bobagem
As rosas não falam
Simplesmente as rosas exalam
o perfume que roubam de ti

Devias vir
para ver os meus olhos tristonhos
E, quem sabe, sonhavas meus sonhos
por fim


Fonte: Museu da Canção

domingo, 10 de fevereiro de 2013

O Mundo é Um Moinho

O Mundo é Um Moinho
Cartola
1976

Dos mestres do samba ganhamos, além de muitas composições fantásticas, histórias que não tardam em atiçar a curiosidade dos fãs sobre aventuras, boemia, parcerias, amores, enfim, sobre a vida dos bambas. Todo grande mestre tem, além das verdades escritas nos relatos biográficos, algumas outras histórias que ganham status de lendas ao longo do tempo justamente pelo fato de não haver consenso sobre o que é verdade ou invenção, o que é fato e imaginário. Na vida do mestre Cartola, talvez o maior de todos os bambas, lendário por si só, muitas de suas histórias já viraram verdadeiros mitos nas rodas de samba e entre os amantes do gênero. Uma de suas composições mais fantásticas, "O Mundo é Um Moinho", daria um filme só por conta das histórias em torno de sua criação, sem contar a letra e a melodia, que são fantásticas.

Reza a lenda que Cartola teria feito essa música para sua enteada, filha de Dona Zica, que teria o propósito de sair de casa para se prostituir. Ao ouvir os versos escritos pelo mestre, percebe-se o quão plausível pode ser essa versão da lenda. Contudo, há quem defenda também que a letra de Cartola seja mesmo para a enteada, mas motivada por uma decepção amorosa. E ainda corre a versão de que o bamba mangueirense escreveu essa canção inspirado pela história de amor de um casal que conheceu.

Nos fóruns de discussão espalhados pela internet, há partidários de cada uma das ideias e ainda de outras, com alguns detalhes diferentes e cada um defende com unhas e dentes sua versão.

Recorremos ao pesquisador do samba, o escritor carioca André Diniz, autor dos livros "Almanaque do Samba" e "Almanaque do Choro", entre outros, para saber se a versão mais famosa corresponde a realidade. Qual não foi nossa surpresa ao descobrir que o mito ficou devendo, ao menos até onde as pesquisas de André Diniz puderam apontar.

"Segundo pessoas com quem conversei, incluindo a Nilcemar, que hoje está frente do Instituto Cartola, na Mangueira, a história não condiz com a realidade", contou André Diniz, em resposta por e-mail à nossa dúvida. Contudo, o pesquisador não bateu o martelo sobre qual das versões é a verdadeira e ainda deixou um pensamento que nos deixou tranquilos em não sanar essa dúvida. "É a velha historia do fato e da versão. Se a versão for melhor, que é o caso dessa música, pra que contar o fato? O fato é bom só para os historiadores (risos)", encerrou André Diniz.

Para conhecer mais sobre a vida e obra do cantor, compositor e violonista Cartola, visite o blog Famosos Que Partiram.



O Mundo é Um Moinho

Ainda é cedo, amor
Mal começaste a conhecer a vida
Já anuncias a hora de partida
Sem saber mesmo o rumo que irás tomar

Preste atenção, querida
Embora eu saiba que estás resolvida
Em cada esquina cai um pouco a tua vida
Em pouco tempo não serás mais o que és

Ouça-me bem, amor
Preste atenção, o mundo é um moinho
Vai triturar teus sonhos, tão mesquinho
Vai reduzir as ilusões a pó

Preste atenção, querida
De cada amor tu herdarás só o cinismo
Quando notares estás à beira do abismo
Abismo que cavaste com os teus pés