Folhetim
Chico Buarque
1977 / 1978
"Folhetim" foi composta entre os anos de 1977 e 1978 para a peça "Ópera do Malandro", por Chico Buarque.
"Folhetim" focaliza a figura da prostituta que oferece os seus encantos - "Se acaso me quiseres / sou dessas mulheres / que só dizem sim.." -, tema idêntico ao da composição "Love For Sale", de Cole Porter, proibida e depois liberada nos anos 30.
Mesmo antes de terminá-la, para uma personagem da "Ópera do Malandro", Chico Buarque já pensava em entregá-la a Gal Costa para gravar. Assim aconteceu, com Gal Costa cantando-a acompanhada por músicos como Wagner Tiso, Perinho Albuquerque, autor do arranjo, e Jorginho Ferreira da Silva, em criativa intervenção ao sax-alto.
Escrita por Chico Buarque, baseada na "Ópera dos Três Vinténs", de Kurt Weil e Bertolt Brecht, e na "Ópera dos Mendigos", de John Gay, a "Ópera do Malandro" conta a história de dois malandros rivais, Max e Duran, e apresenta uma alentada trilha musical em que se destacam, além de "Folhetim", canções como "Homenagem ao Malandro", "O Meu Amor" e a intrigante "Geni e o Zepelim".
Diga-se de passagem que a "Ópera dos Mendigos", uma sátira à sociedade inglesa do século XVIII, é considerada uma obra revolucionária por ter levado canções populares para o teatro operístico.
Embora seja uma música composta para a peça, Chico Buarque explica que muitas vezes o personagem não era tão claro quanto quem iria cantar.
"Então, às vezes, eu pensava no ator ou na atriz que iria cantar. Mas, às vezes, a atriz que iria cantar cantaria só no teatro, porque não era uma cantora profissional. Então misturava, na minha cabeça, a encomenda da personagem, a atriz e a cantora que eu gostaria que gravasse aquela música. Assim saíram canções como "Folhetim", que tinha a cara de Gal Costa e que servia pra personagem!"
Herbert de Souza, o Betinho, foi o primeiro a ouvir a canção, através de uma ligação telefônica que Chico Buarque e o cartunista Henfil fizeram para o Canadá, onde o sociólogo estava exilado.
Folhetim
Se acaso me quiseres
Sou dessas mulheres
Que só dizem sim
Por uma coisa à toa
Uma noitada boa
Um cinema, um botequim
E, se tiveres renda
Aceito uma prenda
Qualquer coisa assim
Como uma pedra falsa
Um sonho de valsa
Ou um corte de cetim
E eu te farei as vontades
Direi meias verdades
Sempre à meia luz
E te farei, vaidoso, supor
Que és o maior e que me possuis
Mas na manhã seguinte
Não conta até vinte
Te afasta de mim
Pois já não vales nada
És página virada
Descartada do meu folhetim
Fonte: Livro 85 anos de Música Brasileira Volume 2, 1ª Edição, 1997, Editora 34