sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Rosa

Rosa
Otávio de Souza e Pixinguinha
1917

Uma das mais belas canções da história do choro é a valsa "Rosa" do mestre Alfredo da Rocha Viana Filho, o Pixinguinha. Um primor tanto na versão original, sem letra, quanto na versão mais conhecida com letra de Otávio de Souza. Além da beleza ímpar, a música possui algumas curiosidades.

Segundo o próprio autor, a valsa foi composta em 1917 e o título original era "Evocação", só recebendo letra muito mais tarde. Como manda a regra e a tradição do chorinho, a música foi composta em três partes. Mais tarde, recebeu letra apenas para primeira e segunda partes e foi gravada e regravada muitas vezes dessa forma. Há alguns anos atrás, a versão original, em três partes e sem letra, foi regravada para o box "Choro Carioca, Música do Brasil" lançado pela gravadora Acari.

"O autor dessa letra é Otávio de Souza, um mecânico do Engenho de Dentro, bairro carioca, muito inteligente e que morreu novo."
(Pixinguinha)

A letra de "Rosa" é um capítulo à parte. Rebuscada, parnasiana e lindíssima foi composta pelo improvável Otávio de SouzaOtávio de Souza era um mecânico de profissão que morreu jovem e nunca compôs nada parecido com "Rosa". Um compositor de uma única música, uma obra prima.

Conta a lenda que Otávio de Souza se aproximou de Pixinguinha enquanto o mestre bebia em um bar do subúrbio carioca para falar que havia uma letra que não saía de sua cabeça toda vez que ouvia a valsa. Pixinguinha ouviu e ficou maravilhado.

A gravação feita por Orlando Silva foi a responsável pela popularização de "Rosa", com erro de concordância e tudo no trecho "sândalos dolente". Francisco Alves e Carlos Galhardo deixaram de gravar "Rosa" por terem se recusado a gravar "Carinhoso" destinado ao Lado A do mesmo disco. Sobrou, então, a valsa para Orlando Silva, que lhe deu interpretação magistral.

"Rosa" é uma linda valsa de breque, mas de difícil interpretação vocal, especialmente para o uso de legatos, já que as pausas naturais são preenchidas por segmentos que restringem os espaços para o cantor tomar fôlego. Quanto à letra, é também um exemplo do estilo poético rebuscado em moda na época. O desafio de regravar "Rosa" foi tentado por alguns intérpretes, sendo talvez o melhor resultado obtido por Marisa Monte, em 1990, com pequenas alterações melódicas.

Outra curiosidade é que "Rosa" era a canção preferida da mãe de Orlando Silva, Dona Balbina. Após sua morte, em 1968, Orlando Silva  jamais voltou a cantar a canção pois sempre chorava.

Para conhecer mais sobre a vida e obra de Pixinguinha, visite o blog Famosos Que Partiram.



Rosa

Tu és, divina e graciosa
Estátua majestosa do amor
Por Deus esculturada
E formada com ardor
Da alma da mais linda flor
De mais ativo olor
Que na vida é preferida pelo beija-flor
Se Deus me fora tão clemente
Aqui nesse ambiente de luz
Formada numa tela deslumbrante e bela
Teu coração junto ao meu lanceado
Pregado e crucificado sobre a rósea cruz
Do arfante peito seu

Tu és a forma ideal
Estátua magistral oh alma perenal
Do meu primeiro amor, sublime amor
Tu és de Deus a soberana flor
Tu és de Deus a criação
Que em todo coração sepultas um amor
O riso, a fé, a dor
Em sândalos olentes cheios de sabor
Em vozes tão dolentes como um sonho em flor
És láctea estrela
És mãe da realeza
És tudo enfim que tem de belo
Em todo resplendor da santa natureza

Perdão, se ouso confessar-te
Eu hei de sempre amar-te
Oh flor meu peito não resiste
Oh meu Deus o quanto é triste
A incerteza de um amor
Que mais me faz penar em esperar
Em conduzir-te um dia
Ao pé do altar
Jurar, aos pés do onipotente
Em preces comoventes de dor
E receber a unção da tua gratidão
Depois de remir meus desejos
Em nuvens de beijos
Hei de envolver-te até meu padecer
De todo fenecer


Fonte: Aquele Samba e Comunidade Orkut

14 comentários:

  1. Não vi nada de rebuscado e muito pouco de parnasiano nessa letra, que é uma das mais belas da música mundial. Dizer que é "rebuscada e parnasiana" é não entender a beleza da poesia nessa obra.

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    1. Como se ser rebuscado e parnasiano denegrisse de alguma maneira a beleza da poesia nessa obra.

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    2. Vamos entender Parnasianismo e Rebuscado!

      PARNASIANISMO:

      O parnasianismo é uma escola literária ou um movimento literário essencialmente poético, contemporâneo do Realismo-Naturalismo. Um estilo de época que se desenvolveu na poesia a partir de 1850, na França.

      Caro amigo Anderson, existem diversos sinônimos para rebuscado. Não leve a frase ao pé da letra pois você poderá cometer gafes como este comentário que postou. Vamos lá:

      REBUSCADO:

      Aperfeiçoado, Aprimorado, Apurado, Ataviado, Atilado, Burilado, Cinzelado, Esmerado, Ornado, Refinado, Requintado, Retocado, Trabalhado.

      Mais informações, consulte:

      http://www.sinonimos.com.br/rebuscado/

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    3. Que Resposta em Marcos Carvalho!
      Turn Down for What pra Você!
      Merece até um ��

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  2. Incrível, quase brigam mesmo escutando essa maravilha!

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  3. Lindas a letra e a melodia. Quando aprendi em 1948 , no quarto verso estava lavrada com ardor.

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  4. Michael Carvalho Silvasexta-feira, 19 fevereiro, 2016

    Uma canção belíssima e de absoluto bom gosto que junto com "Flor Morena" da Aline Calixto parece ter sido escrita sob encomenda para a mulher mais bela do mundo que nesse caso poderia muito bem ser a famosa atriz e modelo americana Megan Fox já que ela é o ideal absoluto de beleza feminina.

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  5. Maravilhosa!!! Tenho guardado o 78 rotações do meu papai!!

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  6. Dizer que a letra é rebuscada e parnasiana,foi a definição mais exata que eu já li sobre tal obra.E na minha ignorância,eu sempre desconfiei que o 'choro' fosse valsa.

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  7. Perfeita descrição que usarei como base no meu tcc sobre cantigas de amor: do trovadorismo às musicas atuais.

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  8. Olá! Estou escutando a gravação de Orlando Silva e não percebi a aludida errata de concordância: ele canta "sândalos 'olentes' " (no plural e não "dolentes") e, depois, "vozes tão dolentes" (aqui, parece mesmo que ele suprime o "s", devido ao andamento de continuidade do verso, mas nada que comprometa a ótima e integral execução), conforme a letra publicada aqui... Outra coisa exposta nos comentários, é confundir o gênero choro, que é um jeito próprio - afro-brasileiro - de tocar os vários ritmos/danças europeias que chegavam ao Brasil no século XIX, como um ritmo puro, que não tenha se utilizado e fundido o Lundu (africano) com a polca, o tango, o maxixe, o tango, a habanera, o samba e outros ritmos... Conforme a Wikipédia: "O choro não se caracteriza por um ritmo específico, mas pela maneira de se tocar solta e sincopada, repleta de ornamentos e improvisações. Assim, é muito vasta a gama de ritmos nos quais se baseiam os compositores de choro."
    Portanto, amigos, "Rosa" é um choro-valsa, ou valsa-choro, como quiserem.
    Abraços fraternos a todos.

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