segunda-feira, 18 de março de 2013

Cálice

Cálice
Gilberto Gil e Chico Buarque
1973

"Cálice" é uma canção escrita e originalmente interpretada pelos cantores brasileiros Chico Buarque e Gilberto Gil em 1973. Na canção percebe-se um elaborado jogo de palavras para despistar a censura da ditadura militar. A palavra-título, por exemplo, é cantado pelo coral que acompanha o cantor de forma a soar como um raivoso "Cale-se!". A canção teve sua execução proibida durante anos no Brasil. Só foi lançada em disco em novembro de 1978 no álbum "Chico Buarque", tendo Milton Nascimento nos versos de Gilberto Gil, e também em dezembro no álbum "Álibi" de Maria Bethânia. A cantora Pitty regravou essa canção em 2010, numa versão rock 'n roll.


História

"Cálice" foi composta para o show Phono 73, que a gravadora Phonogram (Ex Philips, e depois Polygram) organizou no Palácio das Convenções do Anhembi, em São Paulo, em maio de 1973. O evento reuniria em duplas os maiores nomes de seu elenco, onde deveria ter sido cantada por Gilberto Gil e Chico Buarque.

Gilberto Gil havia composto o refrão "Pai, afasta de mim este cálice / de vinho tinto de sangue", uma óbvia alusão à agonia de Jesus Cristo no Calvário, tendo a ambiguidade (cálice / cale-se) sido imediatamente percebida por Chico Buarque. Gilberto Gil havia composto ainda a primeira estrofe da canção. A partir de dois encontros com Chico Buarque, compôs a melodia e as demais estrofes, quatro no total, sendo a primeira e a terceira de Gilberto Gil e a segunda e a quarta de Chico.

No dia do show, quando os dois começaram a cantar "Cálice" tiveram os microfones desligados. De acordo com Gilberto Gil, a canção havia sido apresentada à censura e eles foram recomendados a não cantá-la. Os dois haviam decidido, então, cantar apenas a melodia da canção, pontuando-a com a palavra "cálice", mas isto também não foi possível.

Segundo o relato do Jornal da Tarde, a Phonogram resolveu cortar o som dos microfones, para evitar que a música, mesmo sem a letra, fosse apresentada. Irritado, Chico Buarque tentou os microfones mais próximos, que também foram cortados em seguida.

A canção foi eventualmente liberada cinco anos depois, tendo sido lançada em novembro de 1978 no álbum "Chico Buarque" ao lado de "Apesar de Você", "O Meu Amor", "Tanto Mar" e outras canções censuradas pelo regime militar. À época, Chico Buarque declarou que aquele não era o tipo de canção que estava compondo pois estava trabalhando no repertório de "Ópera do Malandro", mas que elas deveriam ser registradas, pois a liberação tardia não pagava o prejuízo da proibição. Na gravação, as estrofes de Gilberto Gil, que estava trocando a PolyGram pela WEA, foram interpretadas por Milton Nascimento, fazendo coro com o MPB4, em dramático arranjo de Magro.

Em dezembro do mesmo ano, foi a vez da cantora Maria Bethânia gravar a canção também no seu álbum "Álibi"Maria Bethânia interpretou a canção com a força dramática que já era conhecida como sua marca. A teatralidade da cantora adicionou mais significado em cada palavra interpretada por ela. Um clipe com a performance da cantora foi exibido na época pelo programa "Fantástico" da Rede Globo.



Cálice

Pai! Afasta de mim esse cálice
Pai! Afasta de mim esse cálice
Pai! Afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue

Pai! Afasta de mim esse cálice
Pai! Afasta de mim esse cálice
Pai! Afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue

Como beber dessa bebida amarga
Tragar a dor e engolir a labuta?
Mesmo calada a boca resta o peito
Silêncio na cidade não se escuta
De que me vale ser filho da santa?
Melhor seria ser filho da outra
Outra realidade menos morta
Tanta mentira, tanta força bruta

Pai! Afasta de mim esse cálice
Pai! Afasta de mim esse cálice
Pai! Afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue

Como é difícil acordar calado
Se na calada da noite eu me dano
Quero lançar um grito desumano
Que é uma maneira de ser escutado
Esse silêncio todo me atordoa
Atordoado eu permaneço atento
Na arquibancada, prá a qualquer momento
Ver emergir o monstro da lagoa

Pai! Afasta de mim esse cálice
Pai! Afasta de mim esse cálice
Pai! Afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue

De muito gorda a porca já não anda (Cálice!)
De muito usada a faca já não corta
Como é difícil, Pai, abrir a porta (Cálice!)
Essa palavra presa na garganta
Esse pileque homérico no mundo
De que adianta ter boa vontade?
Mesmo calado o peito resta a cuca
Dos bêbados do centro da cidade

Pai! Afasta de mim esse cálice
Pai! Afasta de mim esse cálice
Pai! Afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue

Talvez o mundo não seja pequeno (Cale-se!)
Nem seja a vida um fato consumado (Cale-se!)
Quero inventar o meu próprio pecado (Cale-se!)
Quero morrer do meu próprio veneno (Pai! Cale-se!)
Quero perder de vez tua cabeça! (Cale-se!)
Minha cabeça perder teu juízo. (Cale-se!)
Quero cheirar fumaça de óleo diesel (Cale-se!)
Me embriagar até que alguém me esqueça (Cale-se!)


Fonte: Wikipédia

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